De S. Francisco podem ficar
três ideias fundamentais:
-O espanto é um elemento
positivo de prece: ninguém como S. Francisco se detém nos seres vivos e na
Natureza a quem chama irmãos. Na Idade Média não existia escravatura e
cumpria-se o ideal cristão da fraternidade universal. Foi apenas com os
descobrimentos e o iluminismo que voltou a escravatura com os negreiros, aliás
em conluio com os chefes tribais africanos, e a ideia do “Bom Selvagem”. Na
Revolução Industrial o trabalho infantil era massificado, tal como a
mortalidade infantil, como bem o descreveu Dickens. No nosso tempo a
escravatura regressou com a agiotagem e a globalização. Só quem nasceu de novo,
como disse Jesus Cristo a Nicodemos, só quem vê o mundo pelos olhos de criança
pode deter-se no amanhecer, no entardecer, na criatura, na rosa, na gotícula,
no orvalho…
-A fé como sustentáculo da
Esperança: só uma fé inabalável pode levar um jovem rico a abandonar a riqueza
material e a glória humana e ter a esperança de poder construir algo nestas
condições. Aconteceu com a Ordem dos Cavaleiros e a Ordem dos Frades Menores.
Os franciscanos perduram até ao nosso tempo. A obra de S. Francisco foi um
extraordinário rejuvenescimento de uma Igreja ao tempo atribulada, pelos dois
meios necessários à credibilidade: a palavra e o exemplo. Porque as palavras
são bonitas mas os olhos precisam de ver! Foi esta, também, no nosso tempo, a
obra de Madre Teresa de Calcutá.
-A Idade Média não cola com
a imagem que nos ensinaram na escola, a da Idade das Trevas: neste período
aconteceu a reconquista cristã a quem devemos a matriz fundamental da Europa e
da América. A construção das mais belas catedrais que hoje visitamos na Europa
e que levámos, em ideia, para a América. O método científico e as
universidades. A recuperação e tradução dos conhecimentos greco-latinos pelos
monges copistas. A formação dos primeiros hospitais. Nada mal para uma idade de
trevas!
Como dizia Chesterton, o
que sobra em análise ao homem do nosso tempo, falta-lhe em sensibilidade e bom
senso, precisamente o que o homem da Idade Média tinha. O homem do nosso tempo
vê o pormenor do traço num campo do quadro, mas é cego para ver todo o quadro.
de Todos os Caminhos Levam a Roma, Ed
Oratório, Brasil:
“…Já disse que há dois caminhos para um
homem jovem que se especialize numa meia-verdade. Dei um exemplo pessoal de tal
homem e a possibilidade do seu horrível fim. O outro percurso é aquele que o
faria levar a sua meia-verdade à cultura da Igreja Católica, que é realmente
uma cultura e onde ela realmente seria cultivada. Pois este lugar é realmente
um jardim; e o barulhento mundo exterior é, contudo, nos dias que correm, um
deserto, se bem que um deserto uivante. Isto é, ele pode levar a sua ideia onde
ela será valorizada pela verdade nela contida, onde ela será ponderada em
relação a outras verdades e frequentemente sustentada por melhores argumentos.
Por outras palavras, ela tornar-se-à
parte, se bem que pequena, de uma civilização permanente que usa a sua riqueza
moral como a ciência usa o seu património de factos. Assim, no exemplo ocioso
que mencionei, não há nada verdadeiro naquele meu estado de espírito infantil e
antigo que a Igreja Católica condene. Ela não condena o amor à poesia ou à
fantasia; ela não condena, ao contrário elogia, o sentimento de gratidão pelo
sopro da vida. Com efeito, esse é o espírito em que muitos poetas católicos se
especializaram, e a sua primeira e mais refinada ocorrência encontra-se,
talvez, no grande cântico de S. Francisco1. Mas naquela sã sociedade
espiritual, sei que aquele optimismo nunca será transformado numa orgia de
anarquia ou numa escravidão estagnada, e que não nos sobrevirá nenhum desastre
irónico de ter descoberto uma verdade apenas para disseminar uma mentira.”
1Oração
de S. Francisco:
Ó Mestre,
fazei que eu procure mais:
consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando, que se recebe.
Perdoando, que se é perdoado e
Lord, make me a channel of thy
peace;
that where there is hatred, I
may bring love;
that where there is wrong, I
may bring the spirit of forgiveness;
that where there is discord, I
may bring harmony;
that where there is error, I may bring truth;
that where there is error, I may bring truth;
that where there is doubt, I
may bring faith;
that where there is despair, I
may bring hope;
that where there are shadows,
I may bring light;
that where there is sadness, I
may bring joy.
Lord, grant that I may seek
rather to comfort than to be comforted;
to understand, than to be
understood;
to love, than to be loved.
For it is by self-forgetting
that one finds.
It is by forgiving that one is
forgiven.
It is by dying that one
awakens to eternal life. Amen.
Foi incluída nas orações da
manhã por Madre Teresa de Calcutá e em Oslo, em 1979, recitou-a quando recebeu
o prémio Nobel da Paz. Margareth Thatcher parafraseou-a quando ganhou as
eleições e se tornou PM em 1979. Bill Clinton recitou-a ao Papa João Paulo II
ao recebê-lo em NYC em 1995.
António Campos
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