segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Chesterton e S. Francisco de Assis - I

De S. Francisco podem ficar três ideias fundamentais:

 

-O espanto é um elemento positivo de prece: ninguém como S. Francisco se detém nos seres vivos e na Natureza a quem chama irmãos. Na Idade Média não existia escravatura e cumpria-se o ideal cristão da fraternidade universal. Foi apenas com os descobrimentos e o iluminismo que voltou a escravatura com os negreiros, aliás em conluio com os chefes tribais africanos, e a ideia do “Bom Selvagem”. Na Revolução Industrial o trabalho infantil era massificado, tal como a mortalidade infantil, como bem o descreveu Dickens. No nosso tempo a escravatura regressou com a agiotagem e a globalização. Só quem nasceu de novo, como disse Jesus Cristo a Nicodemos, só quem vê o mundo pelos olhos de criança pode deter-se no amanhecer, no entardecer, na criatura, na rosa, na gotícula, no orvalho…

-A fé como sustentáculo da Esperança: só uma fé inabalável pode levar um jovem rico a abandonar a riqueza material e a glória humana e ter a esperança de poder construir algo nestas condições. Aconteceu com a Ordem dos Cavaleiros e a Ordem dos Frades Menores. Os franciscanos perduram até ao nosso tempo. A obra de S. Francisco foi um extraordinário rejuvenescimento de uma Igreja ao tempo atribulada, pelos dois meios necessários à credibilidade: a palavra e o exemplo. Porque as palavras são bonitas mas os olhos precisam de ver! Foi esta, também, no nosso tempo, a obra de Madre Teresa de Calcutá.

-A Idade Média não cola com a imagem que nos ensinaram na escola, a da Idade das Trevas: neste período aconteceu a reconquista cristã a quem devemos a matriz fundamental da Europa e da América. A construção das mais belas catedrais que hoje visitamos na Europa e que levámos, em ideia, para a América. O método científico e as universidades. A recuperação e tradução dos conhecimentos greco-latinos pelos monges copistas. A formação dos primeiros hospitais. Nada mal para uma idade de trevas!
 

Como dizia Chesterton, o que sobra em análise ao homem do nosso tempo, falta-lhe em sensibilidade e bom senso, precisamente o que o homem da Idade Média tinha. O homem do nosso tempo vê o pormenor do traço num campo do quadro, mas é cego para ver todo o quadro.

 

de Todos os Caminhos Levam a Roma, Ed Oratório, Brasil:

 

“…Já disse que há dois caminhos para um homem jovem que se especialize numa meia-verdade. Dei um exemplo pessoal de tal homem e a possibilidade do seu horrível fim. O outro percurso é aquele que o faria levar a sua meia-verdade à cultura da Igreja Católica, que é realmente uma cultura e onde ela realmente seria cultivada. Pois este lugar é realmente um jardim; e o barulhento mundo exterior é, contudo, nos dias que correm, um deserto, se bem que um deserto uivante. Isto é, ele pode levar a sua ideia onde ela será valorizada pela verdade nela contida, onde ela será ponderada em relação a outras verdades e frequentemente sustentada por melhores argumentos.

Por outras palavras, ela tornar-se-à parte, se bem que pequena, de uma civilização permanente que usa a sua riqueza moral como a ciência usa o seu património de factos. Assim, no exemplo ocioso que mencionei, não há nada verdadeiro naquele meu estado de espírito infantil e antigo que a Igreja Católica condene. Ela não condena o amor à poesia ou à fantasia; ela não condena, ao contrário elogia, o sentimento de gratidão pelo sopro da vida. Com efeito, esse é o espírito em que muitos poetas católicos se especializaram, e a sua primeira e mais refinada ocorrência encontra-se, talvez, no grande cântico de S. Francisco1. Mas naquela sã sociedade espiritual, sei que aquele optimismo nunca será transformado numa orgia de anarquia ou numa escravidão estagnada, e que não nos sobrevirá nenhum desastre irónico de ter descoberto uma verdade apenas para disseminar uma mentira.”

 

1Oração de S. Francisco:
 

Senhor: Fazei de mim um instrumento de vossa Paz.

Onde houver Ódio, que eu leve o Amor,

Onde houver Ofensa, que eu leve o Perdão.

Onde houver Discórdia, que eu leve a União.

Onde houver Dúvida, que eu leve a .

Onde houver Erro, que eu leve a Verdade.

Onde houver Desespero, que eu leve a Esperança.

Onde houver Tristeza, que eu leve a Alegria.

Onde houver Trevas, que eu leve a Luz!

Ó Mestre,

fazei que eu procure mais:

consolar, que ser consolado;

compreender, que ser compreendido;

amar, que ser amado.

Pois é dando, que se recebe.

Perdoando, que se é perdoado e

é morrendo, que se vive para a vida eterna! Amen.
 

 

Lord, make me a channel of thy peace;

that where there is hatred, I may bring love;

that where there is wrong, I may bring the spirit of forgiveness;

that where there is discord, I may bring harmony;


that where there is error, I may bring truth;

that where there is doubt, I may bring faith;

that where there is despair, I may bring hope;

that where there are shadows, I may bring light;

that where there is sadness, I may bring joy.

Lord, grant that I may seek rather to comfort than to be comforted;

to understand, than to be understood;

to love, than to be loved.

For it is by self-forgetting that one finds.

It is by forgiving that one is forgiven.

It is by dying that one awakens to eternal life. Amen.

 

 

Foi incluída nas orações da manhã por Madre Teresa de Calcutá e em Oslo, em 1979, recitou-a quando recebeu o prémio Nobel da Paz. Margareth Thatcher parafraseou-a quando ganhou as eleições e se tornou PM em 1979. Bill Clinton recitou-a ao Papa João Paulo II ao recebê-lo em NYC em 1995.

 

 


António Campos

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