domingo, 27 de janeiro de 2013

A São Tomás, pela mão de Chesterton


     Está ainda na lembrança de muitos a velha regra, de boa e sã convivência, de não falar com desconhecidos e de só estabelecer assídua e natural conversação com as pessoas que nos sejam prévia e devidamente apresentadas. A introdução de novas amizades cabia a pessoa mais experiente e sabedora que nos franqueava a porta de novo conhecimento e nos dava notícia, muitas vezes de forma velada e discreta, das virtudes e interesses de esse estranho que deixava assim de o ser e, aos poucos, se entranhava na nossa vida.  Verdadeiro mestre de cerimónias é, de facto, G. K. Chesterton quando traz ao nosso encontro e ao futuro convívio figuras como S. Tomás de Aquino que ele tão bem soube conhecer e compreender, pela inteligência e pelo coração, e no-la soube transmitir e legar com a sua finura habitual e maestria inexcedível.

     Vivemos em plena época de sólidas e profundas contradições. Assistimos hoje à absolutização do relativismo, ao sistemático ataque à razão, pelos racionalistas, à intolerância dos tolerantes, à fanática fé dos ateus, à preocupação aparente com a queda da natalidade, quando se aceita e legaliza o aborto, à falsa defesa legal e teórica da família, ao mesmo tempo que se põe em causa o matrimónio, sacramento realizado pela vontade expressa de um homem e de uma mulher, como foi aceite e difundido em todas as culturas e civilizações durante milénios e no qual todos e cada um de nós nasceu e cresceu. É caso para perguntar que é feito do realismo e do natural bom senso de que o comum dos mortais é dotado à nascença. Ou deveria sê-lo. Temos, pois, que nadar contra a corrente, para não nos deixarmos submergir por ela. É um mero regresso ao senso comum, esse velho conceito medieval e sempre actual, communis sententia, cuja acentuada perda está em vias de transformar este nosso mundo num autêntico manicómio.

     Desde cedo foi São Tomás de Aquino considerado como um verdadeiro mestre do bom senso, Doutor Comum, Doctor Communis, como era conhecido. E daí a afirmação de G. K. Chesterton: Que o tomismo seja a filosofia do bom senso, o mesmo bom senso o proclama. Mas o que não existe no nosso mundo em abundância, bem pelo contrário, é exactamente o senso comum. Por isso, São Tomás não é um autor da moda. Mas, o que é a moda? Coco Chanel, uma autêntica especialista na matéria, deixou-nos uma elegante e certeira definição: a moda é precisamente o que passa de moda. São Tomás de Aquino, o mestre da filosofia perene nunca será, assim, um autor da moda. E ainda bem.

     Por isso, é muito reconfortante e, dia a dia, mais revigorante lermos ou relermos este livro de Chesterton. É cada vez mais necessária uma boa dose de realismo e o uso salutar da razão. Sobretudo para não entrarmos na actual onda de doutrinas insensatas e de conceitos sem nexo, onda que tudo cobre e leva, e em mera espuma se transforma, e na areia rapidamente se desfaz.

     Vamos, pois, de novo a São Tomás de Aquino. A São Tomás, pela mão de Chesterton.

                                        28 de Janeiro, Dia de S. Tomás de Aquino

 

                                                  António Leite da Costa
 

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