G. K. Chesterton disse
em 1926, quatro anos depois da sua conversão ao catolicismo, que a Igreja é uma
casa com centenas de portas e que não há dois homens que entrem nela pela mesma
porta. A porta, todos nós o sabemos, é a “Porta da Fé”. E atravessar esta porta
é percorrer um caminho que marca e dura a vida inteira, como afirma o Papa
Bento XVI na carta apostólica Porta Fidei – A Porta da Fé -, de 11 de
Outubro de 2011, pela qual se proclama o Ano da Fé que se iniciou a 11 de
Outubro de 2012 e se prolonga até igual data de 2013.
Se estivesse ainda
fisicamente entre nós, Chesterton acharia estranho que fosse necessário que o
Santo Padre proclamasse este, ou outro ano qualquer, como Ano da Fé. E por um
motivo muito simples: todos os anos, desde o nascimento de Cristo, são anos da
Fé. A actual era cristã, de aceitação universal mesmo pelo ateu mais convicto,
o agnóstico mais empedernido ou o céptico mais distraído, não deixa margens
para dúvidas. E é, diariamente, uma afirmação permanente da nossa Fé. Estamos,
na Europa, na África, na Ásia, na América e na Oceânia, em 2013, ou seja, dois
mil e treze anos se passaram desde o dia em que Deus se fez homem na pessoa de
Jesus Cristo, como afirma a nossa Fé. É o nascimento do Deus Menino que
continua e continuará a marcar toda a história da humanidade.
2013, Ano da Fé. Como o
foi 1922, o ano em que G. K. Chesterton recebeu o baptismo. Como o foi o ano de
1874, o ano em que nasceu. Como o foi o ano de 1936, o ano em que partiu para a
Casa do Pai. Todos os anos, que são afinal anos da Fé, expressam a derrota do
ateu, pois como disse o escritor colombiano, de raiz chestertoniana, Nicolás
Gómez Dávila: “ O ateu se consagra menos a verificar a inexistência de Deus que
a proibir-lhe que exista”.
É claro que G. K.
Chesterton, não obstante todos os anos serem anos da Fé, aplaudiria com todo o vigor o anúncio papal de um Ano da
Fé. E diria, como todos nós, que era um Ano da Fé reforçado, para lembrar aos
esquecidos e distraídos a riqueza inultrapassável e perene da mensagem cristã.
Repetiria também aquilo que disse um dia quando lhe perguntaram por que se
tinha convertido à Igreja Católica. Aduziu então duas razões que convém
lembrar, neste Ano da Fé reforçado. A primeira é porque só a fé católica tem
uma verdade firme e objectiva que não depende da nossa aceitação pessoal para
existir. E a segunda é que só através dela, e nela, nos conseguimos livrar dos
nossos pecados. Duas excelentes razões que urge ter sempre presente neste ano
do Senhor de 2013.
Mas há ainda outro
motivo para associar G. K. Chesterton a este Ano da Fé. Aquando da sua morte,
em 1936, o cardeal Eugénio Pacelli, então secretário de Pio XI e futuro Papa
Pio XII, de saudosa e grata memória, enviou ao cardeal Hinsley um telegrama, em
nome do pontífice romano, em que dá a Chesterton o título de Fidei Defensor,
Defensor da Fé. Este título já tinha sido dado por Leão X a Henrique VIII,
antes de este monarca se ter revoltado contra a Igreja Católica. É agora
outorgado postumamente ao grande escritor inglês que, pela sua vida e a sua
obra, continua e continuará a ser, para todos nós, e ainda mais neste Ano da
Fé, um autêntico e verdadeiro Fidei Defensor, Defensor da Fé.
ANTÓNIO LEITE DA
COSTA
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