O anti-semitismo, tal como a
intolerância ou a homofobia, é um dos slogans
da moderna
polícia dos costumes. Os termos são em geral vagos e generalistas, desenraizados da sua raiz etimológica. Anti-semitismo significa ser contra os povos semitas. Mas o que são povos semitas? Não envolvem igualmente árabes e judeus? Então porque o termo é utilizado para referir alguém que não gosta de judeus? Porque não anti-judaísmo ou anti-sionismo?
polícia dos costumes. Os termos são em geral vagos e generalistas, desenraizados da sua raiz etimológica. Anti-semitismo significa ser contra os povos semitas. Mas o que são povos semitas? Não envolvem igualmente árabes e judeus? Então porque o termo é utilizado para referir alguém que não gosta de judeus? Porque não anti-judaísmo ou anti-sionismo?
Diz-se que onde existem dois judeus
existem três opiniões. Não é esta a única analogia com Portugal. A dimensão geográfica,
a orientação rectangular vertical virada a ocidente, a arte culinária, a
diáspora e…o sangue. Muito sangue judaico corre em veias portuguesas. Para um
português é muito fácil falar de anti-semitismo, uma vez que é muito provável,
como dizia o Bandarra, que ele faça parte desse nobre povo encoberto.
Anti-semitismo é coisa que não existe em Portugal, contrariamente ao que se
passa no centro e norte da Europa, onde o imperialismo anglo-americano é
percebido com sinal judaico. O édito de expulsão (1492) foi obedecido quatro anos
depois e a contragosto.
Mas a questão permanece: anti-semitismo
e anti-judaísmo são semelhantes?
A resposta é obviamente não. Sempre que
se fala em usura, vem o barro do anti-semitismo. Portanto, o anti-semitismo é o
ardil que certos milionários usam para se esconder atrás da nobre tradição
judaica.
Perdida a linhagem real e a linhagem
sacerdotal, seguida da deportação, após a queda de Jerusalém no ano 70 e de
Massada em 73, naturalmente o povo judaico sentiu-se abandonado por Deus. O messias
tornou-se o messias-povo e a forma tomou a primazia sobre o conteúdo: ser judeu
é ter umas malas; não interessa o que se coloca dentro das malas, o que importa
é que nunca se percam as malas. A grande maioria do povo dedicou-se ao comércio
e à usura, porque a propriedade da terra nunca conferiria tanta mobilidade numa
terra sempre estranha. Estar exilado é viver numa prisão que é todo o mundo,
cuja porta se fecha sobre a nossa terra.
Deu-se então a grande mudança
intelectual no povo judeu: aqueles que tinham sido testemunhas do único Deus,
que tinham escrito as mais brilhantes peças de teologia da Antiguidade,
passaram a ser brilhantes cientistas, diplomatas, filósofos e políticos. Os
assuntos do Céu cederam face aos assuntos da Terra. A produção teológica
judaica, outrora imponente, é agora irrelevante.
Os judeus sefarditas adotaram um cunho
mais filosófico, os asquenazi mais financeiro.
No entanto, apesar da apostasia geral, que apenas se antecipou à apostasia que
grassa na civilização ocidental, persiste um grupo de judeus religiosos que
continuam a acreditar no Deus de Abraão, Isaac e Jacob. São eles os guardas do
judaísmo.
Se a história da Nova Jerusalém do Apocalipse
lembra a Jerusalém das cruzadas e do direito justiniano, onde judeus,
muçulmanos e cristãos conviviam em paz, de igual modo a história do povo
judaico remete para a história de Caim: o assassínio de um irmão justo, o exílio
e a ausência de Deus, a natureza nómada e a perseguição por todas as outras
nações, uma economia não baseada na agricultura, a derradeira protecção de Deus,
o castigo daqueles que perseguem o exilado.1
Os judeus mais poderosos
economicamente, sempre foram perseguidos com base no interesse material por
parte dos grandes impérios continentais. Egipto, Babilónia, Rússia, Alemanha.
Chesterton dizia que a perseguição na Alemanha não foi tanto a uma raça mas
mais a uma religião. Pode ser, porque também oito milhões de católicos morreram
nos campos de concentração e nos Gulag. Mas é indesmentível que o interesse
económico, o roubo e a extorsão foram uma razão poderosa. A riqueza judaica
financiava a guerra.
A Inglaterra já tinha feito o mesmo
movimento com os católicos. Henrique VIII, Isabel I, Cromwell e finalmente
Guilherme III de Orange, espoliaram os católicos de todos os seus haveres. A
vitória de Guilherme de Orange na Irlanda em 1690 e a consequente proibição aos
camponeses católicos de serem proprietários da terra, numa sociedade exclusivamente rural, originaram uma revolução
social de miséria, perto da qual a Revolução Francesa parece um desfile de
moda. Parece que as finanças anglo-americanas ficaram sob influência judaica, o
que é uma ironia, mas foram judeus holandeses que em grande medida financiaram
Guilherme III e a Revolução Gloriosa.
Shakespeare tinha escrito o Mercador de
Veneza, precisamente sobre esta questão da usura, mas ninguém se atreve a colar
o rótulo de anti-semita ao maior vulto da civilização anglo-americana. Na
verdade, Shylock encarna toda a mesquinhez do usurário. Mas o politicamente
correto não se atreve a apontar o dedo a Shakespeare. É uma hipocrisia.
Chesterton era um sionista. Ele
defendia o direito do povo judeu a voltar à Palestina, a ter uma pátria e a
amanhar a sua terra. Para dizer a verdade, no que a semitismo concerne, ele
distribuiu mais pau por muçulmanos do que por judeus.2 Condenou
explicitamente o nazismo e disse que defenderia o último judeu à superfície da
Terra.3 Afirmou que se sentia intelectualmente e afectivamente mais
próximo de qualquer judeu ou muçulmano crente em Deus, do que de qualquer
inglês ateu militante. O que ele nunca calou foi a corrupção da política e da
justiça associada à alta finança, que em Inglaterra envolvia também famílias
judaicas. Infelizmente a maioria dos judeus não estão na alta finança, pela
simples razão de que em qualquer sociedade uma elite sempre se define por ser
uma minoria despótica.
Mas Chesterton nunca aceitaria, como a
maioria das pessoas não aceitaria, que sionismo em vez de designar o povo de
Israel, o seu Templo, Lei e Sinédrio, a cidade de Jerusalém e a Terra Santa,
antes significasse o direito de um único povo governar todos os povos da terra.
Essa substituição de Deus por um povo é absurda para um ocidental e foi a base
de todos os imperialismos terrenos. Para Chesterton, sionismo significa que um
judeu será sempre judeu e nunca um francês ou inglês: “Se eu me esquecer de ti
ó Jerusalém, que se seque a minha mão direita.”
Acontece que muitos judeus, como
referia David Novak na First Things,
vivem num estado de negação relativamente a todas as nações da terra, de quem
sempre esperam a perseguição, e tentam acumular um poder que evite que voltem a
ser espoliados do seu poder e dos seus haveres, para financiar qualquer guerra.
Acontece que esta atitude pode implicar o desequilíbrio: ter o controlo dos
povos e da História, controlar o futuro para evitar o risco.
Chesterton defendeu inequivocamente em A Nova Jerusalém, o direito do povo
judeu em possuir a sua terra na Palestina, mesmo contra alguns dos grandes
magnatas judaicos que permaneceram em Inglaterra e nos Estados Unidos.4
Não se pode duvidar é da admiração que
Chesterton possuía pelo povo judeu.5 Indiscutivelmente partilhou a
sua amizade com muitos e recebeu tributo de judeus proeminentes.6 O
seu estilo truculento e a generalização, devido ao conflito com os poderosos Cadbury,
lançaram este estigma sobre um homem bom. Estigma que ele podia e deveria ter
evitado, sobretudo porque como cristão e católico, sabia perfeitamente que os
primeiros cristãos eram judeus e que os judeus serão chamados e reunidos de
todas as nações para o novo Israel de Deus.
Do mesmo modo que os judeus
religiosos são vistos com reprovação social, como radicais ou ortodoxos, também
da mesma forma o são os católicos que não abandonaram o seu Deus. Mas para os
apóstatas que só acreditam no poder terreno e no dinheiro, dum lado e do outro,
melhor seria que não pertencessem a sociedades secretas, nem que fosse pelo
simples motivo de que não são democráticas, de que não reconhecem a
fraternidade fora do seu círculo e dos seus rituais. Já nem me atrevo a lembrar
Is 57, 3-13 e Ez 8, 6-17! 7
António Campos
1 Gen 4, 10-16:
“O Senhor disse a Caim: «Onde está teu irmão Abel?» Caim respondeu: «Não sei dele. Sou, porventura, guarda do meu irmão?» O Senhor replicou: «Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama da terra até Mim. De futuro serás maldito sobre a terra que abriu a sua boca para beber da tua mão o sangue do teu irmão. Quando a cultivares, negar-te-á as suas riquezas. Serás vagabundo e fugitivo sobre a terra.» Caim respondeu: «O meu castigo é demasiado grande para ser suportado. Expulsas-me hoje desta terra; obrigado a ocultar-me longe da tua face, terei de andar fugitivo e vagabundo
sobre a terra; o primeiro a encontrar-me matar-me-á.» O Senhor respondeu: «Quem
matar Caim será castigado sete vezes mais».
2 "O
muçulmano foi confrontado, mas não o foi suficientemente. (…) O judeu tem muito
mais subtileza para os ideais da alma. Diz-se que muitos judeus não acreditam
na vida eterna; mas se eles acreditassem seria algo digno do génio de Isaías ou
de Espinoza. O paraíso muçulmano é muito terreno. Mas com toda esta
inteligência e subtileza, o judeu sofre de uma calamidade: o de ser uma raça
eleita.
O pior defeito de uma religião ou de um
patriotismo assente na raça é o de que o indivíduo é a coisa a ser adorada; o
indivíduo torna-se o seu próprio ideal, ou mesmo, o seu próprio ídolo. Esta
atitude foi fatal para os alemães. E será fatal para os anglo-saxões e
americanos quando conceberem o homem inglês como restrito a essa definição."
3
“Desde o início que o senhor Belloc e eu fomos acusados de anti-semitismo. Actualmente,
embora eu ainda creia existir um problema judaico, sou radicalmente contra as
atrocidades de Hitler. Não existe nelas uma única razão válida nem nenhuma
lógica defensável. Trata-se obviamente de um estratagema de um homem que
procura um bode expiatório e encontrou o bode expiatório mais comum na história
europeia, o povo judeu. Afirmo com desassombro que Belloc e eu estamos prontos
a morrer defendendo o último dos judeus na Europa.”
4 "Embora me apelidem de anti-semita, houve períodos em que eu fui o único
pró-semita da companhia.
Os antigos judeus religiosos não
simpatizam com os novos judeus nacionalistas. Não será exagero afirmar que se
um dos lados defende uma religião sem nação, o outro lado defende uma nação sem
religião.
O humor e simpatia do Dr. Elder, médico
judeu, foram muito gratificantes, sobretudo para quem foi acusado de ser
anti-semita. Percebemos que ele era um ardente sionista; e isto foi muito antes
de ele ser um proeminente lider do sionismo. Este acontecimento é importante,
uma vez que ilustra a sinceridade de um pequeno grupo original de sionistas,
que eram a favor deste ideal nacionalista quando todos os milionários judeus
estavam contra."
5 "Aqui na Palestina sobreviveu da Antiguidade um povo notável e tenaz que
defendeu acima das suas virtudes próprias e dos seus defeitos uma ideia
indestrutível: a de que eles eram apenas instrumentos de uma mão mais poderosa.
Aqui aconteceu o primeiro triunfo
daqueles que, de um modo para além do nosso entendimento, escolheram bem entre
todos os poderes invisíveis, e encontraram um grande Deus acima de todos os
deuses."
6 Na escola de São Paulo, figuravam entre os seus amigos dois pares de irmãos
gémeos judeus, Lawrence e Maurice Solomon, Waldo e Digby d’Avigdor. Os
irmãos Solomon na sua vida adulta mudaram a sua residência com as suas famílias
para Beaconsfield, por forma a estarem perto do seu amigo Gilbert.
Os irmãos d’Avigdor viveram no Canadá,
mas Waldo e Gilbert mantiveram correspondência durante muitos anos e
encontraram-se quando Chesterton foi laureado com o honoris causa da Universidade de Notre Dame em outubro de 1930.
Gilbert e Mr. Francis Steinthal eram grandes
amigos. Foi na sua casa de Ilkley, West Yorkshire, que os Chesterton’s
conheceram o padre John O’Connor, o inspirador dos contos do padre Brown.
Quando Chesterton morreu, o Rabbi
Stephen Wise, um dos porta-vozes da comunidade Judaica Americana prestou-lhe tributo:
“Admirava Gilbert Chesterton . . . ele católico, eu judeu, não concordávamos em
muita coisa, mas eu respeitava-o. Quando se iniciou o nazismo ele foi dos
primeiros a falar alto e claro, com a clareza e franqueza de um grande espírito
livre. Abençoada seja
a sua memória!”
7
E conduziu-me à entrada do adro; eu contemplava: havia um buraco na parede.
Ele disse-me: «Filho do homem, fura a
parede!» Furei a parede, e eis que havia uma entrada.
Ele disse-me: «Entra e vê as práticas
abomináveis a que eles aqui se entregam.»
Entrei, e vi: havia uma figura de todas
as espécies de répteis, e de animais repugnantes, todos os ídolos da casa de
Israel gravados na parede à volta.
E eis que estavam de pé diante dos
ídolos setenta homens de entre os anciãos da casa de Israel, também Jezonias,
filho de Safan, estava de pé, diante deles. Cada um tinha o seu turíbulo na mão;
e o odor do incenso subia para o ar.
Ele disse-me: «Vês, filho do homem, o
que os anciãos da casa de Israel fazem às escondidas, cada um no seu quarto
ornamentado de imagens? Eles dizem: «O Senhor não nos vê; o Senhor abandonou o
país.»
E disse-me: «Verás abominações ainda
maiores que eles praticam.»
E levou-me à entrada do pórtico do
Templo de Deus que dá para o norte, e eis que se sentavam aí mulheres que
choravam Tamuz.
Ele disse-me: «Vês isto, filho do
homem? Verás outras abominações ainda maiores do que estas.»
Depois conduziu-me ao vestíbulo interior
da casa de Deus, e eis que, à entrada do Santuário de Deus, entre o vestíbulo e
o altar, estavam cerca de vinte e cinco homens, de costas voltadas para o
Santuário de Deus e o rosto para o oriente. Prostravam-se para oriente, diante
do sol.
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