Verão é tempo de férias.
De descansar do trabalho, de relaxar, de recuperar forças. E de
aproveitar também para pôr
leituras em dia ou reler obras já esquecidas mas que, na altura, nos deram imenso prazer e que levámos pela mão para a praia ou o campo, ou simplesmente para a esplanada do café habitual, para com elas conversar como se fossem costumeiros e velhos amigos.
leituras em dia ou reler obras já esquecidas mas que, na altura, nos deram imenso prazer e que levámos pela mão para a praia ou o campo, ou simplesmente para a esplanada do café habitual, para com elas conversar como se fossem costumeiros e velhos amigos.
É sempre bom termos um livro para ler como um amigo com quem conversar.
Por vezes vêm à baila conversas antigas, quase esquecidas, mas que nos lembram
dias e horas em que o tempo desaparecia furtivamente sem dele darmos conta, tão
entretidos estávamos então a falar com as páginas de esse livro, que se viravam
e reviravam por entre os dedos, num ritmo veloz que só parava na última e
derradeira página. Absorvidos pela leitura, só tínhamos olhos para as palavras
que líamos, as frases que nos saltavam à vista, as imagens e as ideias que
começavam a povoar a nossa imaginação. Quantos de esses livros lidos nas férias
merecem voltar ao nosso convívio, seguir, bem guardados na nossa mala de viagem,
à espera de lhe pegar e sorrir de novo, antes de lhe afagar o rosto e as
páginas!
Mas eis que alguns, na escolha de estes livros, são facilmente levados
pelas indicações de sábios da Natura que, pomposos, recomendam como leitura
obrigatória, em tempo de lazer, muitas e abundantes obras, sobretudo de
escritores da moda, antes que os mesmos passem, inevitavelmente, de moda.
Outros, com ar sisudo, inventam mesmo um inquérito – que se repete ano sim, ano
não -, sobre as dez obras que, num suposto naufrágio, levariam para uma ilha
deserta. E lá vêm dez magníficas obras-primas, daquelas que toda a gente cita e
quase ninguém lê, mas que dão a quem delas fala um ar marcadamente sábio e
culto, a que só faltam as longas e brancas barbas e os óculos a escorregar na
ponta do nariz. Também fizeram um dia esse estafado inquérito a G. K.
Chesterton. Ao que ele respondeu que se estivesse numa ilha deserta não precisava
de dez livros mas apenas de um: Faça você mesmo um barco.
E é com Chesterton que vamos passar férias. Levando na nossa bagagem não
um, mas todos os livros do famoso Padre Brown: A inocência do Padre Brown, A
incredulidade do Padre Brown, O segredo do Padre Brown, A argúcia do Padre
Brown, O escândalo do Padre Brown. E digo todos, porque a sua leitura acaba por
ser, de certo modo, viciante, e, se não os levarmos todos, ficaremos um pouco
desasados quando acabarmos o primeiro ou o segundo. Mais vale, por isso, ter,
neste caso, material de leitura por excesso do que por defeito.
Aproveitamos, assim, para com o Padre Brown visitar as costas de
Cornwall e de Norfolk, dar um salto a Paris, ir à Escócia, mais propriamente a
Glasgow, e entrar, na companhia de Flambeau, no estranho castelo de Glengyle.
Com o nosso detective-sacerdote percorrer uma belíssima cidade italiana do
Mediterrâneo e de conhecer a cidade e o estado fictício de Heiligwaldenstein,
que lembra, pela sua traça urbana, usos, costumes e língua, um pedaço da velha
Germânia. Daí, dar um salto – grande salto – para a costa norte da América do
Sul, seguindo depois para o Midwest americano, não deixando, naturalmente, de
visitar uma prisão da cosmopolita cidade de Chicago, pois o seu capelão não é outro
senão o nosso querido Padre Brown.
Para aqueles que nele apenas viam uma personagem tirada do discreto sacerdote católico de Yorkshire, o Padre John O’Connor, têm aqui um simpático cicerone que nos ajuda a percorrer o mundo exterior, da Europa à América, e o mundo interior, da tentação e do crime, do pecado e da queda. Mas também do arrependimento e do perdão, como é o caso do ladrão Flambeau, que afinal se transforma num dos seus melhores amigos.
Para aqueles que nele apenas viam uma personagem tirada do discreto sacerdote católico de Yorkshire, o Padre John O’Connor, têm aqui um simpático cicerone que nos ajuda a percorrer o mundo exterior, da Europa à América, e o mundo interior, da tentação e do crime, do pecado e da queda. Mas também do arrependimento e do perdão, como é o caso do ladrão Flambeau, que afinal se transforma num dos seus melhores amigos.
Estes policiais, que tanta influência tiveram na literatura do género no
século passado e continuam a ter nos tempos que ora correm, ultrapassam, em
muito, os vulgares romances policiais, mesmo o de autores consagrados. E não é,
como é por demais evidente, por a sua figura cimeira ser um sacerdote católico
na anglicana Inglaterra. É que as suas histórias, maravilhosamente construídas,
estão repletas de alegorias que, quase sem darmos conta, penetram, não apenas
no nosso espírito, mas sobretudo no âmago da nossa alma. Nelas perpassa a
famosa teologia do assombro, isto é, a profunda alegria por estar vivo, e a
filosofia tomista do senso comum. Também, por isso, são leitura que colhe bons
frutos neste Ano da Fé.
Sendo assim, não sejamos gulosos quando acabarmos a sua leitura.
Deixemo-los a algum familiar ou amigo para que também ele possa viajar com
Chesterton e passar férias em tão agradável quão divertida companhia.
António Leite da Costa
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