Uma das razões por que Chesterton não utiliza um sistema de pensamento para aplicar à
realidade - cartesianismo, empirismo, idealismo, utilitarismo,... - é porque ele acredita que a realidade é multiforme; parte dela factualmente explicável, outra intuitivamente apreensível e outra fora do âmbito da compreensão humana, o mistério. Qualquer tentativa de aproximação à realidade não deve ser com um sistema, mas sim não sistematizada, multiforme. A tentativa de encaixar a realidade resultará sempre em deformação ou amputação. É por isso que o pensamento de Chesterton não parece sistematizado, mas ele é inteiramente filosófico, com uma linha condutora. O seu recurso ao paradoxo e à ilustração é a sua abordagem a uma realidade que não repousa apenas na lógica, mas também em emoções, na percepção, na sensatez, na apreciação do resultado da análise. A realidade que apenas aceita a lógica não é racional, porque a emoção, a intuição, a exigência de um resultado conforme ao sentir prático da maioria dos seres humanos, organizados em família e em sociedade, são absolutamente racionais, na medida em que não estão disponíveis para seres irracionais. Chesterton contribui originalmente de dois modos fundamentais: a expressão - que trataremos separadamente como filosofia da linguagem - e a crítica aos sistemas filosóficos e aos filósofos do seu tempo, por comparação com o sentir comum dos homens, de experiência feito, senso comum, num processo de comparação/identificação a que Hegel chamara a consciência-de-si.
DO LIMITE MÁXIMO DO QUESTIONAMENTO AO MÍNIMO MÍSTICO DE GRATIDÃO
realidade - cartesianismo, empirismo, idealismo, utilitarismo,... - é porque ele acredita que a realidade é multiforme; parte dela factualmente explicável, outra intuitivamente apreensível e outra fora do âmbito da compreensão humana, o mistério. Qualquer tentativa de aproximação à realidade não deve ser com um sistema, mas sim não sistematizada, multiforme. A tentativa de encaixar a realidade resultará sempre em deformação ou amputação. É por isso que o pensamento de Chesterton não parece sistematizado, mas ele é inteiramente filosófico, com uma linha condutora. O seu recurso ao paradoxo e à ilustração é a sua abordagem a uma realidade que não repousa apenas na lógica, mas também em emoções, na percepção, na sensatez, na apreciação do resultado da análise. A realidade que apenas aceita a lógica não é racional, porque a emoção, a intuição, a exigência de um resultado conforme ao sentir prático da maioria dos seres humanos, organizados em família e em sociedade, são absolutamente racionais, na medida em que não estão disponíveis para seres irracionais. Chesterton contribui originalmente de dois modos fundamentais: a expressão - que trataremos separadamente como filosofia da linguagem - e a crítica aos sistemas filosóficos e aos filósofos do seu tempo, por comparação com o sentir comum dos homens, de experiência feito, senso comum, num processo de comparação/identificação a que Hegel chamara a consciência-de-si.
DO LIMITE MÁXIMO DO QUESTIONAMENTO AO MÍNIMO MÍSTICO DE GRATIDÃO
O acontecimento do diabolista na Slade School of Arts, obrigou Chesterton a traçar
uma linha, a reconhecer um limite ético mínimo para não violar o outro, culminando o seu conflito interno entre dois mundos estreitos: o de que tudo é
mente (Hegel, Wilde, Nietzsche) e o de que tudo é matéria (Marx, Shaw). Nas
palavras de R. Scruton: “Podemos dizer que o sentido de sacrifício é uma coisa
boa, mas apenas se tu sacrificas a tua própria vida; quando sacrificas a vida
de outras pessoas passaste dos limites.” Este traçar de limite fez Chesterton voltar à natureza primária das coisas: a existência. A
existência é bela porque existe, porque é. É então que é resgatada da sua
infância a memória do teatro de marionetas e dos contos de fadas. Porque a
criança e o poeta compreendem os factos e são extrovertidos. Eles não os
manipulam nem os retorcem com os processos internos da lógica.
Para escapar às complicações da
formatação da realidade pela lógica interna, regressou à forma mais elementar de percepção, o êxtase ou
encantamento: a atenção e importância que a criança confere ao mundo,
como etapa essencial de aprendizagem e ligação ao mundo exterior. Esta
simplicidade de percepção conduz à iluminação. O primeiro acto das coisas é o
ser. Chesterton viu este centro – o ser – mais claramente do que as próprias
coisas: “Se uma coisa não for nada mais, pelo menos ela é; e isso é bom.” E
ainda: “A existência reduzida aos seus limites primários, era suficientemente
extraordinária para ser excitante. Mesmo que a luz do dia seja um sonho, é um
sonho luminoso; não é um pesadelo.” Todo o homem poderia não ter sido, porque a vida é contingente, cheia de acidentes e acontecimentos inesperados, dependente no seu início da decisão de outrem.
ESSÊNCIA E EXISTÊNCIA
Para os existencialistas, como Sartre,
a essência precede a existência em quase todos os objectos que utilizamos no
quotidiano, excepto no homem. Significa isso que os objectos são primeiro
pensados e só depois criados, i.e., primeiro pensamos no objecto para pregar
pregos e só depois construímos o martelo que concebemos. No caso particular do
homem esse movimento não é admitido, i.e., o homem não foi concebido,
simplesmente aconteceu, no decorrer de um longo processo natural mecânico.
Entregam a responsabilidade da origem ou causa e da finalidade do homem a um
processo, de natureza intermédia como qualquer processo, não porque o homem
seja menos complexo do que o martelo, mas porque pensar numa essência para o caso do homem implica a admissão de um intelecto racional infinito criador.
Admitamos então que todas as coisas
criadas têm uma raiz dupla: uma das raízes é uma forma ou essência,
apreensível pela mente sob a forma de conceito. Mas a outra raiz é informe, uma
energia que se encontra presente e na origem de todas as formas ou essências,
fazendo-as existir, agir e ser. Os seus equivalentes físicos, seriam a matéria
e a energia ou a relação dos líquidos com os continentes. A água enche todo e
qualquer continente e adopta a sua forma. É exactamente esta ideia que nos
conduz à outra dimensão da natureza da realidade: ela é divina mas é limitada;
são os limites que definem a natureza das coisas. São os limites morfológicos
que nos fazem distinguir uma árvore de um homem. Qualquer noção de
amálgama não respeita o princípio da realidade.
Para dar um exemplo concreto desta
dupla raiz na natureza das coisas criadas temos que entender que tudo foi
concebido, ou seja, pensado, mas só algumas coisas concebidas são criadas. A
essência das coisas é, portanto, anterior à sua existência, mas a existência
é-lhe superior, no sentido em que nem todas as essências têm existência,
enquanto que tudo o que tem existência se distingue pela respectiva essência ou
categoria. Assim, unicórnios e sereias têm essência, mas não existência; podem
ser pensados ou concebidos, mas não existem. Por outro lado, as coisas que
existem, como um homem ou uma locomotiva, partilham a qualidade mais
importante, a existência, mas distingue-os a sua natureza concebida, a essência
ou qualidade daquilo que são. Admitindo que a essência precede a existência
resulta óbvio o viés existencialista.
OCULTAÇÃO E MISTÉRIO
Mas então se todas as coisas têm em
comum a existência, o Mal não é autónomo, na medida em que ele também partilha
a existência com todas as outras coisas criadas. Portanto, a dialéctica de
Chesterton, não autonomiza o Mal. O Mal não foi concebido como tal; o que
aconteceu foi uma deformidade, um afastamento do propósito inicial, uma
autonomização unilateral, um afastamento dessa fonte primária da existência, ou
luz, no uso racional do livre arbítrio. É nesse sentido que Chesterton vê o que
é secreto, a ocultação, como a manifestação das trevas num esforço de manter a
impenetrabilidade da luz. Ocultação não significa mistério.
Mistério significa
algo que nos cega pela sua luz, algo que não vemos pelo excesso de luz, não
algo que se encontra escondido; antes algo que quando tivermos o olhar que lhe
é adaptado será revelado. Para usar uma expressão de Kant, nunca será algo que
veremos como aquilo que nós lá colocamos, mas algo que veremos pelo que é, pelo
conhecimento intuitivo. A ocultação, pelo contrário, é algo que não vemos
porque se encontra encoberto pela noite, pela escuridão. Ao menor raio de luz
será desvendado. Podem ser difíceis de entender estas diferenças mas, contrariamente
ao que afirmava Hegel, o Mal personificado não faz parte do Bem nem é o seu
oposto perfeito: não só partilha com ele a existência, mas partilha de outras
qualidades, como por exemplo, a razão, o conhecimento, a vontade, a
inteligência. Portanto, está longe de ser um vazio, como pretendia Hegel.
A NATUREZA HOLÍSTICA DO CONHECIMENTO
No entanto, se todas as coisas estão
ligadas pela existência, o conhecimento é holístico, tudo está relacionado
entre si; mesmo se investigamos apenas uma determinada área de conhecimento,
seja ela a arte, a filosofia, a ciência, é impossível não ser influenciado pela
religião. Para Chesterton, uma filosofia que não leve em conta a teologia, não
é verdadeiramente filosofia. Embora noutro sentido, ecoa as palavras de Hegel:
“Filosofia é Teologia”. Na verdade, praticamente todos os filósofos fizeram
afirmações de natureza religiosa, quer defendendo quer atacando a principal
religião do Ocidente, o cristianismo. A teodiceia, a escatologia, a verdade, a
ontologia, a existência, o livre-arbítrio na decisão humana e no curso da
História, a pessoa de Jesus Cristo, foram temas para praticamente todos os
filósofos. Nesse sentido, como afirma Chesterton em O Homem Eterno, os críticos são "filhos" do cristianismo.
A UNICIDADE OU NATUREZA PARTICULAR
CONCRETA DO SER
Mas se o conhecimento é holístico,
existe autonomia ou não das coisas criadas, ou seja, o ser é unívoco ou
análogo? Devemos acreditar portanto num deísmo ou panteísmo, numa divindade
amorfa que dirige um universo mecânico como se fosse um relojoeiro ou num
plasma mental constituído por todas as mentes humanas, em que não existe
livre-arbítrio, ou devemos acreditar num teísmo em que Deus é uma pessoa
análoga a nós, apesar de infinitamente diferente, que intervém na História e se
preocupa com cada um de nós, que existe livre-arbítrio nas acções do homem e em
que o curso da História está sempre em aberto?
A resposta de Chesterton é clara no
livro São Tomás de Aquino, ao dizer que toda a criação é separação e que a
criança se separa da mãe no próprio acto de nascer, tal como o artista se separa da sua obra quando ela se encontra terminada.
O ser não se encontra no “Todo” porque
isso é um conceito abstracto. A realidade não é “tudo”, mas “cada coisa”, por
mais ignóbil ou absurda que seja. Cada uma dessas coisas está à mesma distância
do centro…todas as coisas são bonitas porque existem. Este é o
argumento do mínimo místico de gratidão que se encontra no artigo O Templo de Todas as Coisas, publicado
no Daily News em 24 de Março de 1903.
Não deve existir um único homem que não saiba que existe unicidade no ser: as
leituras de íris, a pesquisa de impressões digitais e a recolha de ADN
dispensam grandes elaborações. No The
Speaker em 31 de Maio de 1902: “A grande falácia dos modernos místicos é a
de que a religião, o misticismo e a poesia lidam com o abstracto…o abstracto é
um símbolo do concreto…Deus fez o concreto, o homem fez o abstracto.”
UMA FILOSOFIA HOLÍSTICA
A filosofia é pois, para Chesterton, uma
reflexão de natureza racional sobre a verdade como tendo uma natureza
religiosa, sem a qual a filosofia se torna inadequada porque parcial, amputada.
A sua filosofia não é menos “filosófica” por ser religiosa, na medida em que a
religião é intrinsecamente humana. Para Chesterton, o homem
encontra-se presente simultaneamente no tempo e na eternidade. Por seu turno, os filósofos profissionais
atribuem à filosofia a área correspondente ao interrogar-se no uso
apenas da razão natural.
Chesterton afirma que o meramente natural
nunca será adequadamente humano, porque ignora o espírito. Não se compreende o
raciocínio como uma função apenas natural, um processo de raciocinar,
subjectivo, sem levar em conta as conclusões a que chega que são de natureza
espiritual. Se um homem se abandona apenas ao processo de pensar, construindo o
seu sistema que aplica a toda a realidade, desancora da própria realidade,
negando a relação da mente com o meio externo que está aí. A via que o
racionalismo encontrou para escapar do cartesianismo e dos idealismos,
psicológico de Berkeley e lógico alemão, foi a do existencialismo. O
existencialismo, a volição de Nietzsche, é uma fuga ao cartesianismo e, por
isso, é um reflexo dele, uma imagem no espelho. No seu movimento de escapar
da razão, Nietzsche teve que negar as normas e regras da percepção e, apesar de
enaltecer a vontade, negou o que há de mais precioso na vontade: a
possibilidade de escolha entre o destrutivo e o criativo, entre uma coisa e
todas as restantes.
O endeusamento da vontade é dionísico,
deixa a vontade sem objectivo, leva-a a lado nenhum, é auto-destrutivo: "Todos
os cultores da vontade, como Nietzsche, estão, na verdade, vazios de volição. O
culto da vontade é a negação da vontade.Todos os actos da vontade são actos de
auto-limitação. Desejar a acção é desejar a limitação. Nesse sentido, todos os
actos são actos de auto-sacrifício. Quando escolhemos uma coisa rejeitamos tudo
o resto. Essa objecção, que os cépticos tinham o hábito de fazer ao casamento,
é, na verdade, uma objecção a todos os actos. Qualquer acto é, obrigatoriamente,
uma selecção e uma exclusão. Da mesma forma que um homem quando casa com uma
mulher renuncia a todas as outras, assim também quando escolhe viver em Roma,
renuncia a uma vida cheia de animação em Chicago.”
As reflexões filosóficas de Chesterton
são inseparáveis das suas convicções religiosas, embora ele tenha chegado às
suas convicções religiosas por meio da sua filosofia, como é descrito em Ortodoxia. Esta convicção tem
repercussões no modo como um homem vê a vida e como a vive nos seus vários
componentes: religioso, social, ético, metafísico ou estético.
Trata-se portanto de uma falácia
discutir qualquer assunto desligado das convicções religiosas de cada homem,
sejam elas baseadas na crença em Deus ou no cepticismo, pois a negativa universal
é tão indemonstrável, ou mais, do que a existência de um ser racional infinito,
que cria e que ama. A religião de cada homem, mesmo a céptica, é inseparável da
forma como ele concebe a vida e a realidade: “A verdade é que a filosofia de um
homem sobre o universo está directamente relacionada à sua acção na vida.” A
filosofia de um homem é uma resposta religiosa à própria vida.
RAZÃO E FÉ
Confiar na razão é um acto de fé na
razão – isso prova que a explicação natural não explica completamente o
universo. A razão só é confiável se se basear em factos – a chamada enunciação
dos primeiros princípios – e os factos dependem da fé nos sentidos. A primeira
delimitação ou enunciação do que é a ciência é de natureza filosófica: os
primeiros princípios não podem ser provados por factos, são uma escolha da
razão. O processo de indução que caracteriza o método científico, i.e., a
colecção de factos observáveis, depende exclusivamente da fé nos sentidos. Se formos radicalmente contra a fé
acabamos por conseguinte, por ser contra a razão:
"Os homens sabiam que, quando as
coisas começassem a ser irreflectidamente questionadas, também a própria razão seria
colocada em questão. Sabemos hoje que assim era. Não temos qualquer desculpa
para o não saber. Porque hoje ouvimos o cepticismo embater contra o antigo
círculo de autoridades, ao mesmo tempo que vemos a razão oscilar no seu trono.
Na medida em que a religião desapareceu, também a razão está a desaparecer.
Ambas gozam do mesmo género de autoridade básica. Ambas são métodos
demonstrativos que não podem ser demonstrados."
A razão só é confiável quando não perde
o contacto com os factos, i.e., não nos devemos ficar pelo pensar, que é um
processo subjectivo, mas considerar a conclusão a que chegou o pensamento e se
ele se adequa à realidade. Embora a razão não esgote toda a realidade: "A
razão, isoladamente, encerra em si alguma analogia com a força bruta; aqueles
que apelam à cabeça em vez de apelarem ao coração, por mais finos e polidos que
sejam, são necessariamente homens de violência. Fala-se de tocar o coração de uma pessoa, mas não se pode fazer nada à cabeça,
excepto bater com ela na parede. As necessidades do homem foram sempre certas,
os seus argumentos foram sempre errados."
"O materialismo e a visão de que
todas as coisas são ilusões pessoais, têm, de algum modo, o efeito de impedir o
próprio pensamento. Porque, se a mente é mecânica, o pensamento não pode ter
grande interesse; e, se o cosmos não é real, não há conteúdo para o
pensamento."
PENSAMENTO ESPECULATIVO
Chesterton faz-nos “ver” mais do que
“provar logicamente”, um tipo de pensamento a que Hegel chamou “especulativo”.
Por exemplo, alguém vê que a natureza humana está acima da restante natureza ou
não vê. Não ocorre a ninguém que a rena pré-histórica tenha feito desenhos de
si própria numa caverna do sul de França. Nem nunca ninguém observou uma atitude religiosa num animal irracional. Não ocorre a nenhum homem são que uma
formulação de direitos não dependa de uma enunciação de deveres, precisamente
porque os direitos de uns são conferidos pelos deveres de outros. Trata-se do
problema da responsabilidade, que depende do livre-arbítrio. Ora, nenhum homem
mentalmente são exige responsabilidade a um animal. Por isso uma formulação de
direitos dos animais é bizarra. O que deve existir é uma formulação de normas e
deveres do homem para com os animais. Os nossos cientistas sociais e políticos
bem que se deviam preocupar menos com “direitos” e muito mais com sanidade…
Chesterton deixa também um lugar para o
mistério, no sentido em que possui plena liberdade em acreditar que determinado
acontecimento, após correcta investigação, seja considerado um milagre. O
céptico recusa qualquer investigação à veracidade de um milagre, na medida em que o seu dogma o obriga a não acreditar em
milagres, pois não acredita na existência do espírito e apenas acredita
na existência da matéria. Para ele o que é hoje inexplicável, encontrará amanhã
uma explicação científica.
“Acreditar que tudo o que vemos é tudo o que existe é uma loucura tão grande como acreditar que aquilo que vemos não
existe realmente: O homem que negar os sentidos ou o homem que só acreditar nos
sentidos é louco”.
A confusão a que chegou a filosofia
moderna, assente no cepticismo, assenta num equívoco, provavelmente deliberado:
a utilização indistinta da palavra mente
e espírito, mind e spirit, que no
alemão, para aumentar a confusão, é uma única e só palavra: Geist. Assim zeitgeist é a mentalidade de uma
determinada época e Heilig Geist é o
Espírito Santo. A filosofia da linguagem pode ocultar a realidade, pode
confundir. É neste sentido que Chesterton ocupa um lugar único na filosofia
moderna: ele é um ilustrador, ele desata os nós.
Uma das imagens do que se afirma prende-se
com a actualmente muito popular investigação do mapeamento cerebral por RMN
funcional. De acordo com cada pensamento, acção, emoção, "acende-se", após um
período de latência, uma determinada área no cérebro. Da mesma forma quando essa
área se encontra lesada, essa acção, por exemplo o reconhecimento de si,
deixa de poder ser efectuada. Mas isto tem o mesmo paralelo que um automóvel
ou um violino: é certo que um violino não toca sem cordas nem um automóvel anda
sem o motor, mas é abusivo dizer que ninguém toca o violino ou que ninguém conduz
o automóvel. O cérebro é uma coisa material; o pensamento é imaterial.
António Campos