domingo, 7 de fevereiro de 2016

A Questão do Anti-semitismo




O anti-semitismo, tal como a intolerância ou a homofobia, é um dos slogans da moderna
polícia dos costumes. Os termos são em geral vagos e generalistas, desenraizados da sua raiz etimológica. Anti-semitismo significa ser contra os povos semitas. Mas o que são povos semitas? Não envolvem igualmente árabes e judeus? Então porque o termo é utilizado para referir alguém que não gosta de judeus? Porque não anti-judaísmo ou anti-sionismo?


Diz-se que onde existem dois judeus existem três opiniões. Não é esta a única analogia com Portugal. A dimensão geográfica, a orientação rectangular vertical virada a ocidente, a arte culinária, a diáspora e…o sangue. Muito sangue judaico corre em veias portuguesas. Para um português é muito fácil falar de anti-semitismo, uma vez que é muito provável, como dizia o Bandarra, que ele faça parte desse nobre povo encoberto. Anti-semitismo é coisa que não existe em Portugal, contrariamente ao que se passa no centro e norte da Europa, onde o imperialismo anglo-americano é percebido com sinal judaico. O édito de expulsão (1492) foi obedecido quatro anos depois e a contragosto.


Mas a questão permanece: anti-semitismo e anti-judaísmo são semelhantes?


A resposta é obviamente não. Sempre que se fala em usura, vem o barro do anti-semitismo. Portanto, o anti-semitismo é o ardil que certos milionários usam para se esconder atrás da nobre tradição judaica.

Perdida a linhagem real e a linhagem sacerdotal, seguida da deportação, após a queda de Jerusalém no ano 70 e de Massada em 73, naturalmente o povo judaico sentiu-se abandonado por Deus. O messias tornou-se o messias-povo e a forma tomou a primazia sobre o conteúdo: ser judeu é ter umas malas; não interessa o que se coloca dentro das malas, o que importa é que nunca se percam as malas. A grande maioria do povo dedicou-se ao comércio e à usura, porque a propriedade da terra nunca conferiria tanta mobilidade numa terra sempre estranha. Estar exilado é viver numa prisão que é todo o mundo, cuja porta se fecha sobre a nossa terra.

Deu-se então a grande mudança intelectual no povo judeu: aqueles que tinham sido testemunhas do único Deus, que tinham escrito as mais brilhantes peças de teologia da Antiguidade, passaram a ser brilhantes cientistas, diplomatas, filósofos e políticos. Os assuntos do Céu cederam face aos assuntos da Terra. A produção teológica judaica, outrora imponente, é agora irrelevante.


Os judeus sefarditas adotaram um cunho mais filosófico, os asquenazi mais financeiro. No entanto, apesar da apostasia geral, que apenas se antecipou à apostasia que grassa na civilização ocidental, persiste um grupo de judeus religiosos que continuam a acreditar no Deus de Abraão, Isaac e Jacob. São eles os guardas do judaísmo.

Se a história da Nova Jerusalém do Apocalipse lembra a Jerusalém das cruzadas e do direito justiniano, onde judeus, muçulmanos e cristãos conviviam em paz, de igual modo a história do povo judaico remete para a história de Caim: o assassínio de um irmão justo, o exílio e a ausência de Deus, a natureza nómada e a perseguição por todas as outras nações, uma economia não baseada na agricultura, a derradeira protecção de Deus, o castigo daqueles que perseguem o exilado.1


Os judeus mais poderosos economicamente, sempre foram perseguidos com base no interesse material por parte dos grandes impérios continentais. Egipto, Babilónia, Rússia, Alemanha. Chesterton dizia que a perseguição na Alemanha não foi tanto a uma raça mas mais a uma religião. Pode ser, porque também oito milhões de católicos morreram nos campos de concentração e nos Gulag. Mas é indesmentível que o interesse económico, o roubo e a extorsão foram uma razão poderosa. A riqueza judaica financiava a guerra. 





A Inglaterra já tinha feito o mesmo movimento com os católicos. Henrique VIII, Isabel I, Cromwell e finalmente Guilherme III de Orange, espoliaram os católicos de todos os seus haveres. A vitória de Guilherme de Orange na Irlanda em 1690 e a consequente proibição aos camponeses católicos de serem proprietários da terra, numa sociedade exclusivamente rural, originaram uma revolução social de miséria, perto da qual a Revolução Francesa parece um desfile de moda. Parece que as finanças anglo-americanas ficaram sob influência judaica, o que é uma ironia, mas foram judeus holandeses que em grande medida financiaram Guilherme III e a Revolução Gloriosa.


Shakespeare tinha escrito o Mercador de Veneza, precisamente sobre esta questão da usura, mas ninguém se atreve a colar o rótulo de anti-semita ao maior vulto da civilização anglo-americana. Na verdade, Shylock encarna toda a mesquinhez do usurário. Mas o politicamente correto não se atreve a apontar o dedo a Shakespeare. É uma hipocrisia.


Chesterton era um sionista. Ele defendia o direito do povo judeu a voltar à Palestina, a ter uma pátria e a amanhar a sua terra. Para dizer a verdade, no que a semitismo concerne, ele distribuiu mais pau por muçulmanos do que por judeus.2 Condenou explicitamente o nazismo e disse que defenderia o último judeu à superfície da Terra.3 Afirmou que se sentia intelectualmente e afectivamente mais próximo de qualquer judeu ou muçulmano crente em Deus, do que de qualquer inglês ateu militante. O que ele nunca calou foi a corrupção da política e da justiça associada à alta finança, que em Inglaterra envolvia também famílias judaicas. Infelizmente a maioria dos judeus não estão na alta finança, pela simples razão de que em qualquer sociedade uma elite sempre se define por ser uma minoria despótica.


Mas Chesterton nunca aceitaria, como a maioria das pessoas não aceitaria, que sionismo em vez de designar o povo de Israel, o seu Templo, Lei e Sinédrio, a cidade de Jerusalém e a Terra Santa, antes significasse o direito de um único povo governar todos os povos da terra. Essa substituição de Deus por um povo é absurda para um ocidental e foi a base de todos os imperialismos terrenos. Para Chesterton, sionismo significa que um judeu será sempre judeu e nunca um francês ou inglês: “Se eu me esquecer de ti ó Jerusalém, que se seque a minha mão direita.”





Acontece que muitos judeus, como referia David Novak na First Things, vivem num estado de negação relativamente a todas as nações da terra, de quem sempre esperam a perseguição, e tentam acumular um poder que evite que voltem a ser espoliados do seu poder e dos seus haveres, para financiar qualquer guerra. Acontece que esta atitude pode implicar o desequilíbrio: ter o controlo dos povos e da História, controlar o futuro para evitar o risco.



Chesterton defendeu inequivocamente em A Nova Jerusalém, o direito do povo judeu em possuir a sua terra na Palestina, mesmo contra alguns dos grandes magnatas judaicos que permaneceram em Inglaterra e nos Estados Unidos.4

Não se pode duvidar é da admiração que Chesterton possuía pelo povo judeu.5 Indiscutivelmente partilhou a sua amizade com muitos e recebeu tributo de judeus proeminentes.6 O seu estilo truculento e a generalização, devido ao conflito com os poderosos Cadbury, lançaram este estigma sobre um homem bom. Estigma que ele podia e deveria ter evitado, sobretudo porque como cristão e católico, sabia perfeitamente que os primeiros cristãos eram judeus e que os judeus serão chamados e reunidos de todas as nações para o novo Israel de Deus.


Do mesmo modo que os judeus religiosos são vistos com reprovação social, como radicais ou ortodoxos, também da mesma forma o são os católicos que não abandonaram o seu Deus. Mas para os apóstatas que só acreditam no poder terreno e no dinheiro, dum lado e do outro, melhor seria que não pertencessem a sociedades secretas, nem que fosse pelo simples motivo de que não são democráticas, de que não reconhecem a fraternidade fora do seu círculo e dos seus rituais. Já nem me atrevo a lembrar Is 57, 3-13 e Ez 8, 6-17! 7




António Campos






Gen 4, 10-16:


“O Senhor disse a Caim: «Onde está teu irmão Abel?» Caim respondeu: «Não sei dele. Sou, porventura, guarda do meu irmão?» O Senhor replicou: «Que fizeste? A voz do sangue do teu irmão clama da terra até Mim. De futuro serás maldito sobre a terra que abriu a sua boca para beber da tua mão o sangue do teu irmão. Quando a cultivares, negar-te-á as suas riquezas. Serás vagabundo e fugitivo sobre a terra.» Caim respondeu: «O meu castigo é demasiado grande para ser suportado. Expulsas-me hoje desta terra; obrigado a ocultar-me longe da tua face, terei de andar fugitivo e vagabundo sobre a terra; o primeiro a encontrar-me matar-me-á.» O Senhor respondeu: «Quem matar Caim será castigado sete vezes mais».


2 "O muçulmano foi confrontado, mas não o foi suficientemente. (…) O judeu tem muito mais subtileza para os ideais da alma. Diz-se que muitos judeus não acreditam na vida eterna; mas se eles acreditassem seria algo digno do génio de Isaías ou de Espinoza. O paraíso muçulmano é muito terreno. Mas com toda esta inteligência e subtileza, o judeu sofre de uma calamidade: o de ser uma raça eleita.
O pior defeito de uma religião ou de um patriotismo assente na raça é o de que o indivíduo é a coisa a ser adorada; o indivíduo torna-se o seu próprio ideal, ou mesmo, o seu próprio ídolo. Esta atitude foi fatal para os alemães. E será fatal para os anglo-saxões e americanos quando conceberem o homem inglês como restrito a essa definição."


3 “Desde o início que o senhor Belloc e eu fomos acusados de anti-semitismo. Actualmente, embora eu ainda creia existir um problema judaico, sou radicalmente contra as atrocidades de Hitler. Não existe nelas uma única razão válida nem nenhuma lógica defensável. Trata-se obviamente de um estratagema de um homem que procura um bode expiatório e encontrou o bode expiatório mais comum na história europeia, o povo judeu. Afirmo com desassombro que Belloc e eu estamos prontos a morrer defendendo o último dos judeus na Europa.”


4 "Embora me apelidem de anti-semita, houve períodos em que eu fui o único pró-semita da companhia.
Os antigos judeus religiosos não simpatizam com os novos judeus nacionalistas. Não será exagero afirmar que se um dos lados defende uma religião sem nação, o outro lado defende uma nação sem religião.
O humor e simpatia do Dr. Elder, médico judeu, foram muito gratificantes, sobretudo para quem foi acusado de ser anti-semita. Percebemos que ele era um ardente sionista; e isto foi muito antes de ele ser um proeminente lider do sionismo. Este acontecimento é importante, uma vez que ilustra a sinceridade de um pequeno grupo original de sionistas, que eram a favor deste ideal nacionalista quando todos os milionários judeus estavam contra."

5 "Aqui na Palestina sobreviveu da Antiguidade um povo notável e tenaz que defendeu acima das suas virtudes próprias e dos seus defeitos uma ideia indestrutível: a de que eles eram apenas instrumentos de uma mão mais poderosa.
Aqui aconteceu o primeiro triunfo daqueles que, de um modo para além do nosso entendimento, escolheram bem entre todos os poderes invisíveis, e encontraram um grande Deus acima de todos os deuses."


6 Na escola de São Paulo, figuravam entre os seus amigos dois pares de irmãos gémeos judeus, Lawrence e Maurice Solomon, Waldo e Digby d’Avigdor. Os irmãos Solomon na sua vida adulta mudaram a sua residência com as suas famílias para Beaconsfield, por forma a estarem perto do seu amigo Gilbert.
Os irmãos d’Avigdor viveram no Canadá, mas Waldo e Gilbert mantiveram correspondência durante muitos anos e encontraram-se quando Chesterton foi laureado com o honoris causa da Universidade de Notre Dame em outubro de 1930.
Gilbert e Mr. Francis Steinthal eram grandes amigos. Foi na sua casa de Ilkley, West Yorkshire, que os Chesterton’s conheceram o padre John O’Connor, o inspirador dos contos do padre Brown.
Quando Chesterton morreu, o Rabbi Stephen Wise, um dos porta-vozes da comunidade Judaica Americana prestou-lhe tributo: “Admirava Gilbert Chesterton . . . ele católico, eu judeu, não concordávamos em muita coisa, mas eu respeitava-o. Quando se iniciou o nazismo ele foi dos primeiros a falar alto e claro, com a clareza e franqueza de um grande espírito livre. Abençoada seja a sua memória!”


7 E conduziu-me à entrada do adro; eu contemplava: havia um buraco na parede.
Ele disse-me: «Filho do homem, fura a parede!» Furei a parede, e eis que havia uma entrada.
Ele disse-me: «Entra e vê as práticas abomináveis a que eles aqui se entregam.»
Entrei, e vi: havia uma figura de todas as espécies de répteis, e de animais repugnantes, todos os ídolos da casa de Israel gravados na parede à volta.
E eis que estavam de pé diante dos ídolos setenta homens de entre os anciãos da casa de Israel, também Jezonias, filho de Safan, estava de pé, diante deles. Cada um tinha o seu turíbulo na mão; e o odor do incenso subia para o ar.
Ele disse-me: «Vês, filho do homem, o que os anciãos da casa de Israel fazem às escondidas, cada um no seu quarto ornamentado de imagens? Eles dizem: «O Senhor não nos vê; o Senhor abandonou o país.»
E disse-me: «Verás abominações ainda maiores que eles praticam.»
E levou-me à entrada do pórtico do Templo de Deus que dá para o norte, e eis que se sentavam aí mulheres que choravam Tamuz.
Ele disse-me: «Vês isto, filho do homem? Verás outras abominações ainda maiores do que estas.»

Depois conduziu-me ao vestíbulo interior da casa de Deus, e eis que, à entrada do Santuário de Deus, entre o vestíbulo e o altar, estavam cerca de vinte e cinco homens, de costas voltadas para o Santuário de Deus e o rosto para o oriente. Prostravam-se para oriente, diante do sol. 

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