sábado, 14 de março de 2015

Voltaire e o Mito de Sísifo


 
Voltaire foi tão importante no ataque à Igreja Católica, que se poderá afirmar sem errar muito que

quando se vê um argumento contra a Igreja sem autor determinado, o mais provável é que o seu autor tenha sido Voltaire. E, no entanto, a defesa da hipótese mítica de que era adepto é hoje insustentável por qualquer académico sério, independentemente das suas crenças, tendo em conta os documentos históricos disponíveis. É então muito mais interessante para um católico analisar a consequência de três outras ideias de Voltaire: o conceito de tolerância, a propaganda e o relativismo. Estas ideias são hoje responsáveis pelo suicídio da civilização ocidental, enquanto que o anticlericalismo de Voltaire, mais baseado no sarcasmo e no desdém do que na consistência, apenas apaixona o pessoal dos partidos políticos onde, como sabemos, o que sobra em intriga falta em qualidade intelectual.

I - O MÉTODO

Em grande medida para escapar à censura real, Voltaire desenvolveu um método de ataque indirecto, camuflado, colocando na boca de outros os seus próprios pensamentos. O objectivo seria sempre colocar a semente da dúvida na mente das pessoas, mais do que discutir argumentos: “É incrível o que aquela seita tem a audácia de afirmar”, seguindo-se uma pormenorizada descrição dos argumentos da suposta seita, terminando, não com a refutação dos argumentos ou o exercício do contraditório, mas com uma afirmação boçal: “Felizmente que em França possuímos a Igreja que explica que essas ideias são apenas maluqueira e devem ser ignoradas.” A verdade é que a Igreja era acusada precisamente do contrário: de analisar cuidadosamente as "novas" ideias à luz da Doutrina e declará-las conformes ou heréticas.



II - A IGREJA

Ataque sobre a Trindade

No Dicionário Filosófico encontra-se uma série de argumentos contra a Trindade, conceito aliás que a Igreja sempre considerou um mistério. São usadas afirmações que só poderão convencer aqueles que não conhecem a Bíblia. A afirmação final é a de que a Trindade nunca foi afirmada pelo próprio Cristo mas que foi uma invenção dos concílios da Igreja. Só pessoas ignorantes ou com preconceito podem ficar convencidas de que Voltaire efectuou um artigo sério de revisão sobre o assunto. Voltaire usa o argumento de que o Judaísmo e o Cristianismo são responsáveis por muitas guerras e mortes e que ele aceita Jesus Cristo sem o dogma das religiões, i.e., sem a sua doutrina, negando a sua divindade, sem a sua marca distintiva.

A Divindade de Cristo

Num ensaio em que supostamente ataca aqueles que recusam a divindade de Cristo, Voltaire “sugere” uma história de como Jesus terá sido considerado uma divindade, supostamente centenas de anos após a sua morte. Voltaire dá corpo a heresias, como a ariana e o islão, mas ilustra-as de forma tão brilhante que ainda hoje elas são populares na mente do homem moderno:

“Os Socinianos que são tidos por blasfemos, não reconhecem a divindade de Jesus. Atrevem-se a afirmar, como os filósofos da Antiguidade, como os judeus, como os maometanos, como a maior parte das outras nações, que a ideia de um homem-deus é monstruosa; que a distância entre o homem e Deus é infinita; e que é impossível a um corpo perecível ser infinito, omnipresente e eterno.

Eles até citam Eusébio, bispo de Cesareia, que na sua História Eclesiástica, declara que é impossível e absurdo que o imutável e Todo-Poderoso possa ter tomado a forma de um homem. Citam os pais da Igreja, Justino e Tertuliano, que afirmaram a mesma coisa, nos seus “Diálogo com Triphonius” e “Discurso contra Praxeas”. Citam S. Paulo que nunca chama Deus a Jesus Cristo e frequentemente lhe chama “homem”. Eles vão ao cúmulo de afirmar que os cristãos levaram três séculos a formar a apoteose de Jesus, seguindo o exemplo dos pagãos que deificaram os seus mortais.

Primeiro, Jesus era apenas visto como um homem inspirado por Deus, depois como uma criatura mais perfeita do que as outras. Mais tarde, foi-lhe dado um lugar acima dos anjos, como diz São Paulo. Cada dia algo mais se adicionava à elaboração. Tornou-se a emanação de Deus manifesta no tempo. Mas isto não bastou: foi elevado à condição de ter nascido antes do próprio tempo. Finalmente fizeram-no Deus, consubstancial a Deus.”

Claro que quem estuda sabe que a divindade de Jesus Cristo, “Eu e o Pai somos um” e “Quem me olha vê o Pai”, foi estabelecida pelo próprio Cristo, documentada em escritos do primeiro e do segundo séculos. Os esforços da Igreja não consistiram em fazer tais afirmações, mas em combater quem as refutava, como os gnósticos no século III. Mas para efeitos de propaganda o que interessa isso? As afirmações de Voltaire funcionam como as notícias na imprensa que destroem a honra das pessoas mesmo que sejam falsas – os desmentidos nunca têm o mesmo destaque e nunca limpam o dano completamente. Como afirmaremos mais tarde, no meio académico, esta tese da evolução da religião cristã por três séculos encontra-se desacreditada, quer por documentos como o papiro de Raylands, quer pelos primeiros escritos apócrifos que combatem a doutrina da Igreja Nascente.



A Cristandade como mito

“Um sistema religioso atribuído a Jesus Cristo, mas realmente inventado por Platão, melhorado por São Paulo, finalmente revisto pelos papas, pelos concílios e outros intérpretes da Igreja. Desde a fundação deste credo sublime, a humanidade tornou-se melhor, mais sábia e mais feliz. O mundo livrou-se da contenda, dos problemas, vícios e males de todo o tipo; uma prova incontestável de que a Cristandade é divina, e que só quem está possesso do diabo se permite duvidar de tal credo ou da sua origem”; “a superstição nascida do paganismo e adoptada pelo judaísmo, insinuou-se na Igreja desde o início. Todos os padres acreditavam no poder da magia. A Igreja condenava-a, mas acreditava nela: ela não excomungava os bruxos como lunáticos que estavam enganados, mas como homens que estavam em comunicação com o diabo.”
Sobre este assunto, provaremos que foi o próprio Voltaire quem construiu um mito. O ponto aqui não é acreditar em demónios, mas acreditar no sobrenatural. Desse ponto primeiro tudo decorre.


A Religião como superstição irracional


“Reparem que entre todas as disputas entre cristãos, Roma sempre favoreceu a doutrina que subjuga a mente e aniquila a razão”; “todo o bom cristão adora a loucura da cruz. Nada é mais contrário ao padre e à religião que a razão e o senso comum”; “as verdades da religião nunca são tão bem compreendidas como por aqueles que perderam a capacidade de raciocinar”.


O Ódio ao Sacerdócio


“O primeiro padre foi o primeiro aldrabão que encontrou o primeiro maluco”; “o padre é o parasita que vive à custa do idiota que trabalha”. “Os padres ali têm tudo e o povo nada; é a obra pura da razão e da justiça. Quanto a mim, não conheço nada mais divino do que os padres, que aqui fazem guerra aos reis de Espanha e de Portugal, e que na Europa confessam esses reis; que aqui matam espanhóis e em Madrid os mandam para o Céu: isto me encanta.”
Se pensarmos que os missionários na América defendiam os índios da ambição dos colonos europeus, se entendermos que Voltaire tinha negócios relacionados com a escravatura e a posse de terras, entendemos melhor a sua hipocrisia. Neste particular seguiu as pisadas do seu mestre Locke.


A Blasfémia

“Se Deus nos fez à sua imagem, nós devolvemos o cumprimento”; “a inspiração é um efeito de divina flatulência emitida pelo Espírito Santo para os ouvidos de uns poucos escolhidos por Deus”; “o ateísmo é o vício de um punhado de pessoas inteligentes”, “o ateu é aquele que não acredita no Deus do padre”.
Exemplo sublime de um defensor da tese mitológica e do uso do ateísmo, por um não ateu, como arma de destruição. Ou então, como diziam Unamuno e Pascal, deísmo e ateísmo poucas diferenças possuem.

Os Cristãos, grandes Criminosos da História e Deus criminoso e sádico

“É o fanático que comete crimes porque o ateu não tem paixões”; “enquanto houver superstições haverá atrocidades”; “a boa nova que o evangelho dos cristãos anuncia é a de que o seu Deus é um Deus de ira, que destinou a maior parte deles ao inferno, que a sua felicidade depende da sua imbecilidade, da sua credulidade, do seus delírios sagrados,…e na sua perseguição de todos aqueles que não concordam com eles.” Sobre a passagem de Josué, 10, 12-14: “foi a favor destes monstros que o sol e a lua se detiveram pelo meio-dia”.
Voltaire utilizou esta passagem para apontar todos aqueles que matam em nome de Deus. Claro que Voltaire esqueceu todos aqueles que matam em nome do homem novo, a começar pela Revolução Francesa, com o Reino do Terror e o massacre da Vendeia. Portanto, o ateu também tem paixões, como o século XX viria a revelar tragicamente.

 


III - A PROPAGANDA

Semeador da dúvida e do erro

Voltaire era um velhaco prolífico, divertido e perspicaz, tinha um conhecimento pleno das técnicas de propaganda. Ainda hoje tanta gente cita Voltaire sem entender que as suas afirmações se encontram saturadas de ironia. A influência de Voltaire na Igreja foi como fermento em massa. Muitas pessoas que se dizem pertencentes à Igreja, dissociam o clero do comum dos leigos, não entendendo que não existe culto sem clero e que o clero é formado por meros homens, não por santos ou deuses – esta foi uma alegação voltaireana. A contestação da Trindade ou da divindade de Jesus são outras. Tudo pelo argumento de que isto é o que afasta as pessoas da fé, sem que os crentes entendam que se isto é o que afasta as pessoas da fé o que resta não é fé nenhuma, porque nada tem de inacreditável. O que resta é uma sabedoria ou uma filosofia. O que resta é o logos, a que nem os deuses podem escapar. O que resta é uma divindade que nada pode fazer pelos homens. Ou não pode ou não quer. A consequência foi que as igrejas que se formaram com base nas alegações de Voltaire se tornaram mais dogmáticas do que era a Igreja Católica que Voltaire atacava e, desde então, recusam mudar a sua orientação, mesmo quando as provas arqueológicas e os manuscritos provam que elas estão erradas.

Embora tenham sido muitas vezes refutadas, as teses de Voltaire são mainstream e o alicerce das doutrinas cristãs liberais, neo-ortodoxas e pós-modernas. De certo modo, Voltaire é um espinho cravado no flanco dos cristãos católicos por mais de três séculos, o que o encheria seguramente de uma grande vaidade. Isto, se ele não tivesse coisas mais graves para resolver no momento…A regra de ouro ao analisar qualquer uma das novas propostas progressistas que pareçam ter validade contra a doutrina da Igreja é a seguinte: é muito possível que tenha tido início ou tenha sido popularizada por Voltaire mas nunca fará vacilar nenhum cristão que tome o seu tempo a reflectir ou a fazer a sua própria pesquisa sobre o assunto.

 

Um Sistema

Timothy Dwight em 1798 retratava Voltaire como construtor de um sistema para destruir a Cristandade e implementar em seu lugar o ateísmo. Para isso, associou-se a d’Alembert , Diderot e Francisco II da Prússia, todos inteligentes e ateus:

1 – Na Enciclopédia, a teologia cristã é retratada como ridícula e absurda e a mente do leitor é sempre conduzida a duvidar do dever e da convicção.

2 – Derrubar a ordem religiosa em vários países.

3 – Estabelecer seitas teosóficas que orientassem os novos valores morais.

4 – Tomar para os membros destas seitas os lugares na Academia Francesa das Ciências, a entidade literária por excelência, tradicionalmente considerada como tendo homens de excelente carácter. Para isso envidaram todos os esforços para incluírem entre os homens de valor intelectual apenas membros destas seitas e indicarem os valores literários à nação.

5 – Elaborar todo o tipo de livros para atacar a Cristandade, sobretudo para fomentar a dúvida, o desprezo e o escárnio. Para isso, escreveram livros agradáveis à leitura, dirigidos a todo o tipo de homens, vendidos gratuitamente ou por valor simbólico.

6 – Constituição de uma academia secreta, com Voltaire presidente, destinada a forjar livros de autores populares já falecidos, com conteúdo manipulado.



 

IV - O RELATIVISMO

O Elogio à Viagem e o Desprezo pela Verdade

O relativismo é a sua imagem de marca. Voltaire elogia mais o querer conhecer do que o chegar a uma verdade objectiva: “A dúvida não é uma condição reconfortante, mas a certeza é absurda.”

Estranha afirmação para quem pretensamente defende a ciência…

”Eu quero uma religião que seja simples, sábia, digna de Deus e feita para nós.”

Ou será…por nós?

“No meio de todas as dúvidas que se discutiram de 4000 modos diferentes por 4000 anos, o melhor é não fazer nada contra a consciência de cada um. Com este segredo, apreciaremos a vida e não recearemos a morte.”

Este amor pela busca e desprezo pela certeza não obedece ao método científico. Embora seja uma atitude cultivada e muito querida das modernas sociedades secretas, ela toma um de dois pressupostos do relativismo: a verdade não existe ou, se existe, o homem não a pode alcançar. O argumento é completamente contraditório. Em primeiro lugar, afirmar o relativismo é admitir que existe algo que é verdadeiro: o relativismo. Então, nenhum relativismo é absolutamente relativista, ou deixa de ser relativismo. Em segundo lugar, se a verdade não existe ou não se pode alcançar, de que adianta continuar a busca? O que temos aqui é o elogio do mito de Sísifo dos gregos, mas estes modernos pensam ter descoberto alguma coisa. Existe algo de paranóico no mito de Sísifo, kafkiano para as mentes mais sensíveis: o absurdo de Camus.

O Pessimismo

Voltaire não só combateu o optimismo em Cândido, mas era intrinsecamente pessimista, porque como todos os deístas, nunca encontrou uma explicação para o mal. Por outro lado, por influência gnóstica, concebia o mundo e o homem como maus. “Se Deus não existisse tudo seria permitido”, “Se Deus não existisse teria que ser inventado”. O pessimismo, como explicado por Camus, também decorre da noção de que nunca é possível conhecer a verdade, o que torna a vida estéril e aética. Camus não encontra resposta ao absurdo no suicídio, como outros o fizeram, mas na revolta. No entanto escorrega para a conclusão de que todas as condutas são legítimas, o que é, em si, outra forma de dissolução e de pessimismo sobre o valor do homem como ordenador jurídico e moral.

 
 


 

 
O Elogio da Lascívia

“É apenas uma superstição da mente humana ter imaginado que a virgindade possa ser uma virtude”; “Deus criou o sexo, o padre criou o casamento.”

 

 

V - A TOLERÂNCIA

Voltaire é sempre apresentado pelos modernos intelectuais como o exemplo máximo da tolerância. Atribui-se-lhe falsamente a afirmação de uma sua biógrafa, Evelyn Beatrice Hall (1868-1919): “eu detesto o que escreves mas daria a minha vida para que fosse possível tu continuares a escrevê-lo”. Ou a afirmação de S. G. Tallentyre, em Os Amigos de Voltaire, “eu não concordo com o que dizes, mas eu defenderei até à morte o teu direito de o dizeres”.

“O que é a tolerância? É o espelho do humanismo. A nossa natureza consiste na fragilidade e no erro; perdoemos as nossas loucuras recíprocas – essa é a primeira lei da natureza. É claro que aquele que persegue um homem, seu irmão, porque ele não é da mesma opinião, é um monstro.”

Isto necessita de um pouco de reflexão, porque uma falsidade nunca é tão falsa como quando é quase verdadeira. A fragilidade e o erro fazem parte da nossa natureza? Sim! Temos que nos perdoar? Sim!

Não existem acções que devam ser severamente punidas e para as quais não devamos mostrar qualquer tolerância mas a mais absoluta firmeza? Esta é a diferença…de outro modo caminhamos para a dissolução.

Mas será que a tolerância tão elogiada no nosso tempo não tem limites? Então porque são proibidas expressões xenófobas? Porque se encontra proibido o livro Mein Kampf? Porque são removidos conteúdos do Facebook, uma rede global que é um espelho da nossa sociedade mítica? Perante tanta hipocrisia, temos que elogiar Voltaire como um grande construtor de mitos!

O papel de Voltaire na História lembra muito o de Bakunin. O modo como sendo deísta, usa o ateísmo para atacar o teísmo, lembra como o movimento anárquico foi útil para derrubar a ordem social. Mas o que é característico das revoluções é a sua extrema intolerância para com qualquer tipo de anarquismo ou de novas revoluções. Se há um revolucionário odiado pelas revoluções é o contra-revolucionário. A revolução impõe uma nova ordem e não tem nenhuma tolerância para com aqueles que não adoptam essa ordem ou pensam fora dos cânones permitidos. De certo modo, a revolução odeia o homem vivo. É uma ironia: o resgate do homem torna-se o seu grilhão; o céu na terra torna-se a antecipação do inferno.

Mas seria Voltaire um adepto sincero da tolerância ou um propagandista soberbo que, sob a capa da lógica e da razão, desrespeitava o princípio da não contradição? Trinta dos cento e dezoito artigos do seu Dicionário Filosófico são anti-semitas, mais propriamente anti-judaicos: “os nossos patrões e os nossos inimigos, que detestamos e reputamos como o mais abominável povo da terra”. Outros artigos daquele “Dicionário”, tão querido de laicos iluminados, são de natureza racista: “os pretos são escravos de outros homens por natureza”, “os homens de cor, segundo os filósofos gregos, nasceram do acasalamento de mulheres com macacos”.

É este o herói dos iluministas!

Aliás, Voltaire, como antes o seu admirado Locke, negociaram com a escravatura e financiaram o genocídio dos índios. Tinham da tolerância a mesma visão. Locke afirmava: ”Grande parte da humanidade está destinada a trabalhar, escravizada pela sua condição medíocre”; “o patrão tem o direito de impor ao escravo um domínio absoluto e o poder legislativo da vida e da morte”; “os filhos dos pobres devem ser separados dos seus pais e mandados trabalhar a partir dos três anos de idade”.

E a tolerância para com os cristãos? Zero! “Os crentes, aqueles simplórios, que aceitam, entre outras absurdidades, tanto o evangelho de Mateus como o de Lucas”. E a sua recomendação a Thiriot de que é necessário mentir despudoradamente? Ou o seu slogan: “caluniai, caluniai sempre, que algo sempre fica”. Que grande tolerante! Que grande moralista! Joseph Goebbels afirmaria muitas coisas em comum com Voltaire, não apenas sobre cristãos, judeus ou negros, mas sobretudo sobre o espírito: “uma mentira repetidamente afirmada transforma-se em verdade!”

Os gritos de “Caçai o infame!” começaram-se a ouvir no genocídio da Vendeia (1794) e no reino do Terror de Robespierre. Mas os regimes ateus e deístas não terminaram por aqui. Os gritos de caçai o infame ouviram-se vezes demais nas gélidas ruas de Moscovo ou Leningrado, ecoaram vezes demais do sapateado da Gestapo na escura noite da Alemanha.

 
Sobre este debate, para quem tiver interesse em ver, algumas notas:

Hitchens nunca prova o ateísmo; ele apenas não aposta do teísmo, digamos assim como Pascal.
O argumento de que estamos muito longe do Big Bang para o avaliar vale o mesmo para o evolucionismo e os seus  missing links de estimação.

Hoje não é seguro que tenhamos vindo de África. O grande meteoro não caiu apenas na Indonésia; pelos menos um caiu também na Sibéria.

A discussão sobre os demónios é enviesada, porque decorre da primeira discussão: se existem seres sobrenaturais...

Para o crente nenhuma prova é necessária e para o ateu nenhuma prova é suficiente. Deus conhece-se pelo coração, pela prova testemunhal e pelos documentos arqueológicos e históricos. Deus é amor, não é uma invenção filosófica, uma descoberta da ciência ou uma fera enjaulada pela teologia. A razão defende-nos da superstição e do absurdo, mas é, por si só, insuficiente sem a análise cuidadosa das provas sobre Jesus Cristo e o incrível testemunho do povo judaico: se os judeus tivessem sido todos mortos perderíamos o seu testemunho; se se tivessem todos convertido ao cristianismo, o seu testemunho seria altamente suspeito.

Parece ser mais interessante analisar a vida de Cristo e o cristianismo nascente com olhos judaicos, porque os primeiros cristãos eram de facto judeus, do que ver este tipo de debates que sinceramente não conduzem a lado nenhum.


António Campos

2 comentários:

  1. Um dos textos mais incríveis que já li. Não tenho palavras para expressar minha imensa gratidão.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É reconfortante saber que esta também pode ser considerada uma forma de partilha.
      Obrigado.

      Eliminar