sexta-feira, 31 de julho de 2015

O Socialismo: Crítica




Economia

- A noção de valor: Marx ligava a sua teoria de valor a tempo de trabalho. Ignorou
factores fundamentais: o mérito no desempenho, a qualificação, a ideia inovadora, o valor de assumir risco e a arte.
A arte não apenas é absolutamente desnecessária como objecto material, como o seu  o valor final não depende tanto do tempo gasto pelo trabalhador na manufactura.

- O trabalho alienado: o trabalho supõe a separação entre o produtor e o produto do seu trabalho como condição de continuidade de desempenho. O agricultor vende produtos agrícolas para investir em máquinas, o artista vende as suas obras para obter as condições do seu viver diário e notoriedade. A separação do produto do seu trabalho não é factor de limitação do trabalhador como afirmava Marx; pelo contrário, é um factor que lhe oferece novas possibilidades e amplia os seus horizontes.

- A arte: a arte depende da liberdade e da inovação. Não pode ser o Estado a definir o que é arte e qual artista subsidiar, de outro modo o artista cessa a sua condição de artista e passa a ser um funcionário. Este é um erro que não é exclusivo do socialismo. Uma obra de arte não serve qualquer propósito prático e, no entanto, o seu valor aumenta ao longo do tempo. O que a distingue é a sua particularidade, algo descartado pela mente colectivista.

- O Estado: Nada como o socialismo evidencia tão bem que o Estado não somos todos nós, uma falácia tão ao gosto dos políticos contemporâneos para justificarem a sua moral "republicana". A nação somos todos nós, o Estado não. O Estado é uma organização política, construção das elites segundo valores que lhe são próprios, burguesas e intelectuais. Em geral, razões de Estado significam que essa elite tem uma lógica de sobrevivência própria e não de serviço ao povo ou a homens concretos. O Estado moderno encontra-se refém das sociedades secretas - é a "Ashlar" de Albert Pike, a pedra polida. Os iniciados deverão esquecer tudo o que os liga à sua vida (mulher, filhos, amigos, etc.), i.e., morrer para esta vida e renascer para uma nova vida como "aperfeiçoados". 

- Estado e liberdade: Um Estado que detém os circuitos de produção, emprego, distribuição e comercialização, representa a maior tirania alguma vez construída por uma sociedade humana, uma vez que possui o destino de cada homem inteiramente na sua mão. Perdidos a propriedade, o sentido de risco, a inovação e a devida recompensa, os indivíduos perderão a sua motivação para o trabalho e para a produção, conduzindo à derrocada da economia. Além disso, uma economia de planeamento central não se consegue adaptar à realidade contingente, local e temporalmente. A produção existe ao mesmo ritmo e desligada das reais necessidades das pessoas concretas, rígida e alienada, obedecendo apenas a relatórios de funcionários, que serão viciados de acordo com a conveniência. Não existindo relação entre a procura e a oferta, por meio do preço, tudo se torna fictício como se a vida das pessoas fosse apenas o que se vê escrito num pedaço de papel por um funcionário do partido único.
O marxismo esquece que o trabalhador é simultaneamente consumidor. Numa sociedade capitalista, o consumidor determina a natureza dos produtos que prefere consumir, orientando por sua vez a actividade do produtor e o seu sucesso. Desse modo, o trabalhador norteia a actividade do proprietário dos meios de produção.

A moral: Abolido Deus, a moral fica entregue ao Estado. Abolido o multipartidarismo é impossível a crítica, uma vez que o partido único não permite oposição. Um governo que tudo fornece é incapaz de fornecer uma oposição. A moral torna-se relativista e em permanente mudança conforme as intenções do Estado. Sem crítica não existe aperfeiçoamento. Um Estado socialista está em grande medida condenado à estagnação tecnológica. É uma ironia. A sociedade cuja dialética mais dependeria do progresso é aquela onde o progresso é menos possível.
Grande parte do progresso económico de uma sociedade depende do investimento privado e do investimento estrangeiro. Uma sociedade fechada a ambos não só perde duas importantes molas de desenvolvimento e inovação, como perde as receitas resultantes de impostos que poderiam ser aplicados em prol do bem comum.





Filosofia e Teologia – O materialismo dialético


O socialismo resulta da ideia fundamental de Feuerbach de que o único Deus que existe é o homem e que toda a história de Deus é um antropomorfismo. Deste materialismo resultam ideias fundamentais:

1 – O homem é uma máquina.

(Mas convém não esquecer a questão fundamental de “quem dirige a máquina?”. Um automóvel tem vários órgãos que explicam o seu funcionamento e pode ter até um computador de bordo, mas alguém tem que conduzir o automóvel, alguém tem que colocar a equação no computador. Mais importante ainda, alguém teve que fazer o automóvel porque um automóvel não se faz a si próprio).

2 – O pensamento e as ideias resultam de secreções (neurotransmissores) no cérebro apenas.

(Os materialistas adoram simplificações. Claro que esta noção não explica como têm os seres humanos inspiração tão diferente, possuindo basicamente as mesmas estruturas cerebrais, as mesmas áreas, e os mesmos neurotransmissores. Os homens não respondem de forma igual a estímulos semelhantes – basta observar o aproveitamento dos alunos numa escola. Contrariamente ao que dizia Bertrand Russel, a diferença de reacção entre uma pedra e um homem não é apenas de grau, é de qualidade. Nas pedras existe uma relação causa-efeito clara; no homem nem sempre é assim, o mesmo estímulo pode originar respostas esperadas ou diferentes e inesperadas. Ou que fenómenos desencadeiam a libertação de tais neurotransmissores - o materialismo equaliza o mecanicismo fisiológico à origem dos fenómenos). 

3 – As máquinas portar-se-iam como um organismo em evolução determinística, como se tivessem vida própria e moldassem as ideias humanas – são as forças de produção material ou meios de produção .

Do ponto de vista económico podem chamar-se meios de produção, mas do ponto de vista filosófico só podem ser chamadas máquinas ou forças de produção material.
A ideia de Marx era a de que as forças de produção material é que condicionavam o evoluir histórico. O moinho manual teria produzido o feudalismo; o moinho motorizado teria produzido o capitalismo; outras máquinas viriam que produziriam o socialismo. Marx acreditava que as máquinas evoluiriam deterministicamente, afectando a mente do homem como se fossem organismos – é o materialismo dialético.

Marx rejeita que as máquinas sejam produto das ideias e da inteligência humana. Marx, tal como Hegel, julga que tudo o que é particular é uma abstracção. O homem é um acidente, um micróbio, um espelho; a realidade são as forças de produção material. Aquilo que em Hegel era Geist, em Marx é matéria. A evolução mecanicista do universo tinha conferido à matéria a forma de se organizar em formas de inteligência (homem) e em máquinas.





No entanto, a forma como Marx explica as ideias de Locke como tendo origem em interesses de classe, contradiz a sua premissa de que as ideias humanas surgem apenas a partir das forças de produção material.
Para Marx um ser humano é obrigado a pensar, pelas forças de produção material, de tal forma que as suas ideias reflictam os seus interesses de classe. Os interesses são independentes da mente e das ideias. As máquinas de cada época moldariam o mundo, tal como moldariam as ideias humanas.
Dizer que um homem é determinado pela sua época, seria o mesmo que dizer que um homem é o produto das máquinas da sua época, i. e., pelo estadio de organização da matéria na sua época..

Cada classe social é uma espécie de ser orgânico que reflecte nas suas unidades constituintes, i.e. cada indivíduo humano, basicamente as mesmas ideias. Os diferentes indivíduos dentro da mesma classe social são apenas acidentes, o organismo verdadeiro é a classe social.
A heterogeneidade de pontos de vista (interesses) dentro de uma classe social apenas revela as características particulares da classe social. Se não forem o indivíduo a, b ou c a exprimirem esses pontos de vista, fá-lo-ão os indivíduos x, y ou z, uma vez que os interesses são espelho da classe social e não dos indivíduos componentes.
Como os interesses existem independentemente das ideias, as ideias não são verdadeiras. Então a ideologia exprime apenas o pensamento de cada classe. Não existe uma lógica comum a todos os homens; cada classe social possui a sua lógica.


Para Marx a evolução das máquinas (forças de produção material) é a mesma coisa que a evolução do espírito ou da História para Hegel. A História teria sempre o mesmo percurso, fosse com os protagonistas que conhecemos ou com outros. O mérito do protagonista é apenas expressar o sentido da História ou, neste caso, expressar os interesses de classe, como se fosse um médium, uma correia de transmissão.

A influência darwinista fez Marx pensar que o homem era apenas um animal com instintos e que a evolução das máquinas daria conta e todo o tipo de trabalho, sem especialização humana – no futuro todos os homens seriam generalistas.
O materialismo dialético despreza o papel da mente humana e vê as máquinas como a origem do desenvolvimento histórico. A mente humana faria apenas eco do desenvolvimento das máquinas que se portariam como um organismo colectivo inteligente.

(Marx sempre ignorou que as máquinas têm origem na mente humana! Pelo contrário, afirmava que as máquinas é que dirigiam a mente humana. A matéria seria um organismo inteligente e as máquinas seriam o seu alter ego).





As ideias fundamentais de O Manifesto são “classe” e “conflito de classe”,. No entanto, Marx nunca definiu o que era classe social! No terceiro volume de O Capital, que ficou incompleto por Marx ter parado de o escrever muitos anos antes da sua morte, apenas se refere o que não é uma classe.

A única ideologia verdadeira existirá apenas quando não houver classes sociais.

Como o proletariado é a única classe que subsistirá no mundo em que não houver classes sociais (o comunismo), as ideias actuais do proletariado (que se encontra na dialética socialista), as vanguardas iluminadas, são as únicas que exprimem a verdade.

Não existe nenhuma lógica verdadeira, excepto a do proletariado iluminado que é a lógica do futuro.

(Os nacionais socialistas pegaram nesta ideia para exprimir a ideia que cada raça tinha a sua lógica, mas só a raça ariana possuía a lógica verdadeira…É o problema da lógica: depende da premissa!). 

Num panfleto que não teve a coragem de publicar em vida chamado Valor, Preço e Lucro, Marx afirmava que os sindicatos não se deviam bater por melhorar as condições dos trabalhadores, mas sim por incutir neles uma mente revolucionária que só seria alcançada pela degradação das condições de vida e de trabalho.

(Esta crítica de Marx aos sindicatos, um homem que não pertencia ao proletariado, deita por terra toda a essência das suas ideias. O pai criticava a classe que não pode errar!).


Toda a gente depende de ideologia, mas segundo Marx existe uma classe de homens, os intelectuais “independentes” que possuem um especial privilégio – o de descobrir verdades que não são ideologia.

(Esta ideia foi o substrato da sociologia do conhecimento de Karl Mannheim, desenvolvida a partir das ideias de Hitler).

Portanto, as máquinas não resultam das ideias do homem, os interesses de classe é que geram ideias (que é o contrário de dizer que o homem pensa de acordo com os seus interesses), só há uma classe social certa, todos os indivíduos da classe social certa pensam da mesma maneira e existe apenas uma ideia verdadeira – é um totalitarismo mecânico!

Foi efectuado um esforço de simplificação para que esta filosofia fosse apreendida pelas “massas”: Tudo depende de condições económicas. A história humana é a história das forças de produção material. A evolução das máquinas muda tudo o resto (a superestrutura).

Mas Marx sempre recusou a discussão intelectual. Em vez de tentar desarmar os argumentos dos seus oponentes, sempre respondeu que o que era necessário era expor a sua origem burguesa. Os opositores às suas ideias seriam apenas burgueses (tal como ele era). 

Isto significava que ninguém de origem burguesa estaria em condições de escrever algo sobre o socialismo, o que conduziu à moda de todos os escritores tentarem provar a sua origem proletária. É estúpido pensar que as pessoas inovam a pensar em coisas meramente práticas e não na verdade das coisas. Em que coisa prática teria pensado Newton quando levou com a maçã, ele que foi um entre milhares que foram atingidos por maçãs? Ah, claro, esquecemos que Newton também tinha um passado “de classe”, portanto provavelmente tudo o que disse não corresponderia de modo algum à verdade.




É uma hipocrisia porque as ideias de Marx surgem de um homem que é filho de um famoso advogado casado com a filha de um militar de alta patente prussiana, irmã do chefe da polícia de toda a Prússia. Engels era dono de várias fábricas na Prússia e de uma fábrica em Manchester; era conhecido por participar nas famosas caçadas à raposa em Inglaterra com a sua jaqueta vermelha, um conhecido passatempo dos ricos. Engels recusou casar com a sua companheira porque ela era mais pobre do que ele. Saint-Simon, o fundador do socialismo francês era descendente de uma família famosa de duques e condes.

As ideias de Marx e Engels não surgem a partir dos interesses do proletariado, portanto são falsas pelos seus próprios parâmetros. Se, como diz Marx, na etapa final do socialismo alguns burgueses se juntam ao proletariado, isso não tem efeitos retroactivos nas suas ideias e desautorizam a sua lei filosófica geral.

Se os proletários pensam necessariamente segundo os “interesses” ou “espírito” da sua classe, qual o significado de haver dissensões entre eles?

Quando existem dissensões entre o proletariado estamos perante “traidores sociais”. Será um “eu discordo daquilo que penso!” É um conceito semelhante ao dos racistas: se todos os alemães têm necessariamente as mesmas ideias, o que dizer de típicos alemães que não expressam essas ideias? E quem decide sobre quem é portador das verdadeiras ideias alemãs?

A voz interior!

É a última instância. Tal só pode conduzir à intolerância e à guerra – é a genética do socialismo.

Existiam dois grupos de russos que se consideravam proletários: os bolcheviques e os mencheviques. O único modo de esclarecerem as diferenças foi pela guerra e aniquilação. Os bolcheviques venceram. Entre os bolcheviques houve diferenças de opinião entre Trotsky e Estaline. O meio de resolver as diferenças foi a purga. Trotsky foi assassinado em 1940.


Augusto Comte foi secretário de Saint-Simon de 1817 a 1824. Dizia que existia apenas um princípio absoluto, o de que tudo é relativo. Criou a “Religião da Humanidade” em que descartava a teologia e a metafísica. Dizia que a liberdade tinha sido útil no passado porque lhe tornara possível publicar os seus livros; agora que estavam publicados não existiria mais necessidade de liberdade. Comte tem o lema da sua “seita”, os positivistas, na bandeira da maior nação católica do mundo: “Ordem e Progresso”.

Em 1917 Nikolai Bukharin escreve que a liberdade tinha sido necessária no passado porque os bolcheviques se encontravam na oposição e necessitavam da liberdade para alcançar o poder. Conquistado o poder, não existiria mais necessidade de liberdade. Bukharin foi executado em Moscovo na purga de 1938. Se Bukharin vivesse no mundo ocidental teria possivelmente a liberdade de escrever panfletos idiotas sobre como não necessitamos de liberdade…

Marx sempre considerou utópicos os que pretenderam explicar o socialismo, tornando-o popular. O paraíso futuro não se explica, constrói-se. Para Marx o socialismo era inevitável, nada tinha que ver com a conquista das pessoas. Mas em 1859 forma o partido socialista que advoga o terror revolucionário e a implantação do socialismo pela infiltração e pela força, pelo derrube de governos legítimos por meio da subversão social. Marx e Engels decidiram dar uma ajudinha ao determinismo…





Conclusão


Não existiu um levantamento do proletariado em todas as nações, mas sim estado contra estado na primeira e segunda guerras mundiais. Os proletários de todo o mundo têm menos em comum que os homens alemães ou portugueses entre si, independentemente da classe social.

Os trabalhadores dos países industrializados não ficaram mais pobres por via do seu trabalho alienado, mas mais ricos. O socialismo não triunfou nas nações mais desenvolvidas ou mais instruídas, mas na atrasada e rural Rússia, após uma guerra civil de 3 anos, com o apoio da Alemanha (em guerra com a Rússia) e do capital internacional. Nos dias de hoje triunfa apenas na atrasada e pobre América Latina e no Extremo Oriente mais pobre. E é muito questionável que o homem necessite mais de valores materiais do que de valores imateriais, que aprecie mais a sua empresa do que a sua mulher, que dê mais facilmente a vida por um iluminado membro do partido do que por um seu filho, que prefira sempre obter mais um par de botas do que assistir a um concerto musical.

O marxismo é uma coisa do passado. Ficou terminado em 1859, ano em que Marx e Engels cessaram de acreditar na inevitabilidade do comunismo por meios pacíficos e passaram a advogar o terror. Lenine limitou-se a atacar adversários e a contribuição de Estaline foi nula. Pelos próprios parâmetros de Marx, o marxismo deve ser descartado. Mas para quem considera que só olhando o passado se pode precaver o futuro, o marxismo deve ser estudado, para se entender como a mente humana pode tão facilmente resvalar para o absurdo.

Existe uma outra razão: o marxismo (e os seus crimes) teve sempre uma atitude de tolerância por parte das elites. Podemos pensar se a idolatria das máquinas, a educação de um ser humano como máquina, a clonagem humana, o controlo de todas as circunstâncias da vida particular por parte do Estado, a concentração da propriedade, o combate à religião revelada e a uma moral universal, não continuarão na ordem do dia...




(Parte significativa deste texto é uma reflexão e sinopse sobre as aulas de Ludwig von Mises).


António Campos

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